quinta-feira, 30 de junho de 2016

Relações simpáticas e antipáticas dos espíritos - O Livro dos Espíritos

 291. Além da simpatia geral, determinada pelas semelhanças, há afeições particulares entre os Espíritos?
      — Sim, como entre os homens. Mas o liame que une os Espíritos é mais forte na ausência do corpo, porque não está mais exposto às vicissitudes das paixões.
      292. Há aversões entre os Espíritos?
      — Não há aversões senão entre os Espíritos impuros, e são estes que excitam entre vós as inimizades e as dissensões.
      293. Dois seres que foram inimigos na Terra conservarão os seus ressentimentos no mundo dos Espíritos?
      — Não; compreenderão que sua dissensão era estúpida e o motivo, pueril. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam uma espécie de animosidade, até que se purifiquem. Se não foi senão um interesse material o que os separou, não pensarão mais nele por pouco desmaterializados que estejam. Se não houver antipatia entre eles, o motivo da dissensão não mais existindo, podem rever-se com prazer.
Comentário de Kardec:  Da mesma maneira que dois escolares, chegando à idade da razão, reconhecem a puerilidade de suas brigas infantis e deixam de se malquerer.
      294. A lembrança das más ações que dois homens cometeram, um contra o outro, é obstáculo à sua simpatia?
      — Sim, ela os leva a se distanciarem.
      295. Que sentimento experimentam, após a morte, aqueles a quem fizemos mal neste mundo?
      — Se são bons, perdoam, de acordo com o vosso arrependimento. Se são maus, podem conservar o ressentimento, e por vezes vos perseguir até numa outra existência. Deus pode permiti-lo, como um castigo.
      296. As afeições dos Espíritos são suscetíveis de alteração?
      — Não, porque eles não podem enganar-se, não usam mais a máscara
 sob a qual se ocultam os hipócritas, e é por isso que as suas afeições sãoinalteráveis, quando eles são puros. O amor que os une é para eles fonte de uma suprema felicidade.
      297. A afeição que dois seres mantiveram na Terra prossegue sempre no mundo dos Espíritos?
      — Sim, sem dúvida, se ela se baseia numa verdadeira simpatia: mas se  as causas de ordem física tiverem maior influência que a simpatia, ela cessa com as causas. As afeições, entre os Espíritos, são mais sólidas e mais duráveis que na Terra, porque não estão subordinadas ao capricho dos interesses materiais e do amor-próprio.
       298. As almas que se devem unir estão predestinadas a essa união desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do Universo,a sua  metade, à qual algum dia se unirá fatalmente?
       — Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre os Espíritos, mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam, ou seja, de acordo com a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta felicidade completa.
      299. Em que sentido se deve entender a palavra metade, de que certos Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos?
      —A expressão é inexata; se um Espírito fosse a metade de outro, quando separado estaria incompleto.
      300. Dois Espíritos perfeitamente simpáticos quando reunidos ficarão assim pela eternidade ou podem separar-se e unir-se a outros Espíritos?
      — Todos os Espíritos são unidos entre si. Falo dos que já atingiram aperfeição. Nas esferas inferiores, quando um Espírito se eleva, já não tem a mesma simpatia pêlos que deixou.
      301. Dois Espíritos simpáticos são o complemento um do outro, ou essa  simpatia é o resultado de uma afinidade perfeita?
      — A simpatia que atrai um Espírito para outro é o resultado da perfeitaconcordância de suas tendências, de seus instintos; se um. devesse completar o outro, perderia a sua individualidade.
      302. A afinidade necessária para a simpatia perfeita consiste apenas na semelhança dos pensamentos e sentimentos, ou também na uniformidade dos conhecimentos adquiridos?
      — Na igualdade dos graus de elevação.
      303. Os Espíritos que hoje não são simpáticos podem sê-lo mais tarde?
      — Sim, todos o serão. Assim, o Espírito que está numa determinada esfera inferior, quando se. aperfeiçoar, chegará à esfera em que se encontra o outro. Seu encontro se realizará mais prontamente se o Espírito mais elevado,suportando mal as provas a que se submetera, tiver permanecido no mesmoestado.
      303 – a) Dois Espíritos simpáticos podem deixar de sê-lo?
      — Certamente, se um deles é preguiçoso.
 Comentário de Kardec: A teoria das metades eternas é uma imagem que representa a união de dois Espíritos simpáticos. E uma expressão usada até mesmo na linguagem vulgar e que não deve ser tomada ao pé da letra. Os Espíritos que dela se servem não pertencem à ordem mais elevada. A esfera de suas idéias é necessariamente limitada, e exprimiram o seu pensamento pelos termos de que se teriam servido na vida corpórea É necessário rejeitar esta idéia de que dois Espíritos, criados um para o outro  devem um dia fatalmente reunir-se na eternidade, após terem permanecido separados durante um lapso de tempo mais ou menos longo.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Conselhos sobre a mediunidade curadora

Resultado de imagem para mediunidade curadoraComo já vos foi dito muitas vezes nas diferentes instruções, a mediunidade curadora, conjuntamente com a faculdade de vidên­cia, é chamada a desempenhar um grande papel no período atual da revelação. São os dois agentes que cooperam com a maior força na regeneração da Humanidade e para a fusão de todas as crenças numa crença única, tolerante, progressiva, universal.
Quando, recentemente, me comuniquei numa reunião da Sociedade, onde me haviam evocado, eu disse e repito que todo mundo possui em maior ou menor grau a faculdade curadora, e se cada um quisesse consagrar-se seriamente ao estudo dessa faculdade, muitos médiuns que se ignoram poderiam prestar úteis serviços a seus irmãos em humanidade. Nessa oportunidade o tempo não me permitiu desenvolver todo o meu pensamento a esse respeito. Aproveitarei o vosso apelo para fazê-lo hoje.
Em geral, aqueles que buscam a faculdade curadora têm como único desejo o restabelecimento da saúde material, de obter a liberdade de ação de tal órgão,impedido nas suas funções por uma causa material qualquer. Mas, sabei-o bem, é o menor dos serviços que esta faculdade está chamada a prestar, e só a conheceis em suas primícias e de maneira inteiramente rudimentar, se lhe conferis esse único papel... Não, a faculdade curadora tem missão mais nobre e mais extensa!... Se ela pode dar aos corpos o vigor da saúde, também deve dar às almas toda a pureza de que são susceptíveis, e é somente neste caso que poderá ser chamada curativa, no sentido absoluto da palavra.
Muitas vezes vos disseram, e vossos instrutores nunca se cansariam de repetir, que o efeito material aparente, o sofrimento, tem quase constantemente uma causa mórbida imaterial, residindo no estado moral do Espírito. Se, pois, o médium curador ataca os males do corpo, só ataca o efeito, e a causa primeira do mal continuando, o efeito pode reproduzir-se, quer sob a forma primordial, quer sob qualquer outra aparência. Muitas vezes aí está uma das razões pelas quais tal doença, subitamente curada pela influência de um médium, reaparece com todos os seus acidentes, desde que a influência benéfica se afaste, porque não resta nada, absolutamente nada para combater a causa mórbida.
Para evitar essas recidivas, é necessário que o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus efeitos; numa palavra, é preciso tratar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma.
Para ser bom médium curador, não só é preciso que o corpo esteja apto a servir de canal aos fluidos materiais reparadores, mas é preciso, ainda, que o Espírito possua uma força moral que ele não pode adquirir senão por seu próprio melhoramento. Para ser médium curador, portanto, é preciso preparar-se, não só pela prece, mas pela depuração de sua alma, a fim de tratar fisicamente do corpo pelos meios físicos e de influenciar a alma pela força moral.
Uma última reflexão. Aconselham-vos a procurar de preferência os pobres que não têm outros recursos além da caridade do hospital. Não estou inteiramente de acordo com este conselho. Jesus dizia que o médico tem por missão cuidar dos doentes e não dos que estão com saúde. Lembrai-vos que na questão de saúde moral há doentes por toda parte, e que o dever do médico é ir a todos os lugares onde o seu socorro é necessário.


Abade Príncipe DE HOHENLOHE.

(Revista Espírita, outubro de 1867 - Dissertações espíritas)
                                    (Paris, 12 de março de 1867. Grupo Desliens - Médium, Sr. Desliens)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Origem da Linguagem

 Meus caros e bem-amados amigos ouvintes, pedis-me hoje que eu dite ao meu médium a história da linguagem. Tentarei satisfazer-vos. Deveis, porém, compreender que me será impossível, nalgumas linhas, tratar inteiramente da importante questão, à qual se liga forçosamente outra mais importante, a da origem das raças humanas.
            Que Deus Todo-Poderoso, tão benevolente para com os espíritas, me conceda a lucidez necessária para afastar de minha dissertação toda confusão, toda obscuridade e sobretudo todo erro.
            Entro na matéria dizendo-vos que admitamos, inicialmente, como princípio, esta eterna verdade: O Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se entenderem reciprocamente. Não obstante, esse modo de comunicação, essa linguagem, era tanto mais restrita quanto mais inferiores eram as espécies. É em virtude dessa verdade, dessa lei, que os selvagens e os povos pouco civilizados possuem línguas tão pobres que uma porção de termos usados nas regiões favorecidas pela civilização lá não encontram vocábulos correspondentes, e é em obediência a essa mesma lei que as nações que progridem criam novas expressões para novas descobertas e novas necessidades.
            Como eu disse alhures, a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a fase bárbara, a fase hebraica e pagã e a fase cristã. A esta última sucederá o grande período espírita, cujos alicerces lançamos entre vós.
            Examinemos, pois, a primeira fase e o começo da segunda, e aqui só posso repetir o que eu já disse. A primeira fase humana, que poderemos chamar pré-hebraica ou bárbara, arrastou-se por muito tempo e lentamente em todos os horrores e convulsões de uma barbárie terrível. Aí o homem é peludo como um animal selvagem e, como as feras, abriga-se em cavernas e nos bosques. Vive de carne crua e se repasta de seu semelhante, como de uma excelente caça. É o mais absoluto reino da antropofagia. Não há sociedade nem família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivem na mais completa promiscuidade, sempre prontos a se entredevorarem. Tal é o quadro desse período cruel.
            Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma ideia religiosa. Apenas as necessidades animais a satisfazer, eis tudo!
            Prisioneira de uma matéria estupidificante, a alma fica morna e latente em sua prisão carnal. Ela nada pode contra os muros grosseiros que a encerram, e sua inteligência mal pode mover-se nos compartimentos de um cérebro estreito.
            O olho é embaciado, a pálpebra pesada, o lábio grosso, o crânio achatado, e alguns sons guturais bastam como linguagem.
            Nada prenuncia que desse animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagãs. Contudo, com o tempo, eles sentem a necessidade de se defenderem contra os outros carnívoros, como o leão e o tigre, cujas presas terríveis e garras afiadas facilmente dominavam o homem isolado. Assim realiza-se o primeiro progresso social. Não obstante, o reinado da matéria e da força bruta se manteve durante toda essa fase cruel.
            No homem dessa época, não procureis sentimentos nem razão, nem linguagem propriamente dita. Ele obedece apenas à sua sensação grosseira, e só tem como objetivo comer, beber e dormir. Nada além disso. Pode-se dizer que o homem inteligente ainda está em germe, mas que não existe ainda.
            Contudo, é preciso constatar que entre as raças brutais já aparecem alguns seres superiores, Espíritos encarnados, com a tarefa de conduzir a Humanidade ao seu objetivo e apressar o advento da era hebraica e pagã.
            Devo acrescentar que, além desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era frequentemente visitado por esses ministros de Deus cuja memória foi conservada pela tradição sob os nomes de anjos e de arcanjos, que quase diariamente se punham em contato com os seres superiores, Espíritos encarnados, dos quais falei. A missão de alguns desses anjos continuou durante uma grande parte da segunda fase humanitária. Devo acrescentar que o rápido quadro que acabo de fazer dos primeiros tempos da Humanidade vos ensina, um pouco, a que leis rigorosas são submetidos os Espíritos que se exercitam a viver nos planetas de formação recente.
            A linguagem propriamente dita, como a vida social, não começa a ter um caráter certo senão a partir da era hebraica e pagã, durante a qual o Espírito encarnado, sempre sujeito à matéria, começa a se revoltar e a quebrar alguns elos de sua pesada cadeia. A alma fermenta e se agita em sua prisão carnal; por seus esforços reiterados reage energicamente contra as paredes do cérebro, cuja matéria ela sensibiliza; ela melhora e aperfeiçoa por um trabalho constante o desempenho de suas faculdades e, consequentemente, os órgãos físicos se desenvolvem; enfim, o pensamento se deixa ler num olhar límpido e claro. Já estamos longe das frontes achatadas! É que a alma se sente, se reconhece, tem consciência de si mesma e começa a compreender que ela é independente do corpo. Também, a partir deste momento, ela luta com ardor para se desvencilhar da opressão de sua robusta rival. O homem se modifica cada vez mais e a inteligência se move mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Todavia, constatamos que nessa época o homem ainda é cercado e registrado como o gado, o homem escravo do homem; a escravidão é consagrada pelo Deus dos Hebreus, tanto quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, assim como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas vivas.
            Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico; sobre o que já tracei um quadro rápido, que meu médium logo vos comunicará.
            Como quer que seja, e para voltar ao tema deste estudo, tende por certo que não foi senão na época dos grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou uma marcha regular e adotou formas e sons especiais.
            Durante essa época primitiva, em que a Humanidade saía dos cueiros e balbuciava na primeira infância, poucas palavras bastavam aos homens, para os quais ainda não tinha nascido a ciência, cujas necessidades eram muito restritas, e cujas relações sociais paravam à porta das tendas, à soleira da família, e mais tarde nos confins da tribo. Era a época em que o pai, o pastor, o ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto, com direito de vida e de morte.
            A língua primitiva foi uniforme; mas, à medida que crescia o número de pastores, estes, deixando por sua vez a tenda paterna, foram fundar nas regiões desabitadas novas famílias, novas tribos. Então a língua por eles usada se diferenciou gradativamente, de geração em geração, da que era usada na tenda paterna; foi assim que os diversos idiomas foram criados.
            De resto, ainda que minha intenção não seja dar um curso de linguística, não vos passa despercebido que, nas línguas mais díspares, encontrais palavras cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por outro lado, posto tenhais a pretensão de ser um velho mundo, o mesmo motivo que corrompeu a língua primitiva, reina ainda soberano em vossa França tão orgulhosa de sua civilização, onde vedes as consonâncias, os termos e a significação variarem, não direi de província a província, mas de comuna a comuna. Apelo para o testemunho daqueles que viajaram pela Bretagne, como para os que percorreram a Provence e o Languedoc. É uma variedade de idiomas e de dialetos que espanta aquele que os quisesse coligir num único dicionário.
            Uma vez que os homens primitivos, ajudados nisso pelos missionários do Eterno, emprestaram a certos sons especiais certas ideias especiais, foi criada a língua falada, e as modificações que ela sofreu mais tarde foram sempre em razão do progresso humano; por conseguinte, conforme a riqueza de uma língua, pode-se estabelecer facilmente o grau de civilização atingido pelo povo que a fala. O que posso acrescentar é que a Humanidade marcha para uma língua única, como consequência forçada de uma comunidade de ideias em moral, em política, e sobretudo em religião. Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo, que hoje vos ensinamos. 

ERASTO
(Revista Espírita, novembro de 1862 - Dissertações espíritas)

(Sociedade Espírita de Paris - Médium: Sr. d’Ambel)