quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ecologia e Espiritismo

(matéria publicada na Folha Espírita em novembro de 2007)

“A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele a emprega no supérfluo o que poderia ser empregado no necessário”. (O Livro dos Espíritos, capítulo V, Lei de Conservação)
Cláudia Santos
Ao se deparar com o tema Ecologia e Espiritismo, é muito provável que, em um primeiro momento, muitos de nós nos perguntemos o que um teria a ver com o outro. De fato, logo de cara, eles não aparentam ser assuntos correlatos. Mas, analisando a origem de ambos, vemos que, assim como Ernst Haeckel, cientista alemão que primeiro usou o termo Ecologia e a definiu como “o estudo da casa ou do lugar onde vivemos”, seu contemporâneo Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, nos trouxe respostas, através dos espíritos, sobre as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem e o quanto um depende do outro. A partir daí, está dada a resposta: a Ecologia anda, sim, de braços dados com a Doutrina de Kardec.
“Assim como o conceito de Espiritismo demandou tempo para ser incorporado, o mesmo ocorreu com a Ecologia, do ponto de vista científico e filosófico. Há coincidências entre Espiritismo e Ecologia. O primeiro tem uma visão sistêmica. Por exemplo, demonstra-se que nas diferentes moradas do Pai existe relação de interação constante entre os mundos, uma conexão entre diferentes fenômenos. Desdobra-se um olhar que vai além e que explica a teia, como tudo está conectado. Sabemos que estamos inseridos num contexto. Que cada um de nós tem companhias nos planos denso e espiritual e vai tendo uma série de experiências. Sentimo-nos mergulhados em algo maior e estamos misturados a outros. A visão ecológico-sistêmica tem o mesmo alcance”, analisa o carioca André Trigueiro, 41, apresentador do programa Cidades e Soluções, transmitido aos domingos, às 21h30, pela Globonews e Canal Futura, e que acaba de completar um ano no ar.
Na pergunta 705 de O Livro dos Espíritos, no capítulo que versa sobre a Lei de Conservação, Kardec, ao questionar a espiritualidade “por que nem sempre a terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?”, recebe uma resposta que exemplifica bem o que vivemos hoje: “É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se” (...).
Com essa resposta, a Espiritualidade nos mostra que o materialismo exarcebado, que o “ter por ter”, cada vez mais presente em um modelo de desenvolvimento econômico que promove a produção de bens de consumo sempre mais caros e sofisticados, precisa ser revisto. O homem começa a perceber, hoje, dados os alardes sobre o avanço da degradação do planeta, que não há como haver uma produção ilimitada deles na biosfera, que é finita e limitada. Essa produção e consumo exagerados esbarram na Ecologia. “O problema é que, em uma sociedade de consumo, como a nossa, nenhum de nós se contenta apenas com o necessário”, afirma Trigueiro. “A publicidade encarrega-se de despertar apetites vorazes de consumo do que não é necessário, daquilo que é supérfluo, descartável e inessencial, renovando a cada nova campanha a promessa de felicidade que advém da posse de mais um objeto”, analisa.

Relação com o ambiente comprometida
Você já parou para pensar como anda nossa relação com o ambiente em que vivemos? E o que temos a ver com a emissão de carbono na atmosfera, o conseqüente aquecimento global, a produção exagerada de lixo e um possível esgotamento dos recursos naturais no nosso planeta?
Acredita que não tem nada a ver com isso? Que até faz algo, mas que sozinho não pode mudar o mundo? A verdade é que cada um de nós é responsável por tudo isso que está aí. E se não frearmos o modelo de desenvolvimento que temos adotado acabaremos padecendo junto com a Terra. Assim, não importa se nossas ações possam parecer pequenas diante do universo, mas se elas acontecerem, influenciarão as do seu vizinho e, muito provavelmente, de toda uma sociedade.
É preciso nos lembrar que a questão ambiental está muito fortemente associada a modelos de desenvolvimento, a um projeto de civilização. O meio ambiente somos nós, o meio que nos cerca e as relações que estabelecemos com ele. Nossa qualidade de vida depende da forma como estabelecemos essa relação. Ele transcende ao gueto da fauna, flora e preservação. É muito mais que isso.
Trigueiro, jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação (Editora Globo, 2005), coordenador editorial e um dos autores do livro Meio Ambiente no Século XXI (Editora Sextante, 2003), acredita ser imprescindível que o Movimento Espírita absorva e contextualize, à luz da Doutrina, os sucessivos relatórios científicos que denunciam a destruição sem precedentes dos recursos naturais não renováveis, no maior desastre ecológico de origem antrópica da história do planeta.
“Os atuais meios de produção e consumo precipitaram a humanidade na direção de um impasse civilizatório, onde a maximização dos lucros tem justificado o uso insustentável dos mananciais de água doce, a desertificação do solo, o aquecimento global, a monumental produção de lixo, entre outros efeitos colaterais de um modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”, avalia.
Segundo Trigueiro, para nós, espíritas, é fundamental que o alerta contra o consumismo seja entendido como uma dupla proteção: ao meio ambiente, que não suporta as crescentes demandas de matéria-prima e energia da sociedade de consumo, onde a natureza é vista como um grande e inesgotável supermercado, e ao nosso espírito imortal, já que, de acordo com a Doutrina Espírita, uma das características predominantes dos mundos inferiores da Criação é justamente a atração pela matéria. “Nesse sentido, não há distinção entre consumismo e materialismo e nossa invigilância poderá custar caro ao projeto evolutivo que desejamos encetar”, alerta.
De acordo com o jornalista, uma das mais respeitadas referências em sustentabilidade no País, essa questão é tão crucial para o Espiritismo, que, na pergunta 799, de O Livro dos Espíritos, quando Kardec indaga “de que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?”, a resposta é taxativa: “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade (...)”.
“Uma das mais prestigiadas organizações não-governamentais do mundo, o Worldwatch Institute, com sede em Washington (EUA), divulga anualmente o relatório ‘Estado do Mundo’, uma grande compilação de dados e estudos científicos que revelam os estragos causados pelo atual modelo de desenvolvimento. Em um dos últimos relatórios, publicado em 2004, afirma-se que o consumismo desenfreado é a maior ameaça à humanidade. Os pesquisadores do Worldwatch denunciam que altos níveis de obesidade e dívidas pessoais, menos tempo livre e meio ambiente danificado são sinais de que o consumo excessivo está diminuindo a qualidade de vida das pessoas”, informa Trigueiro, que, abaixo, conta um pouco mais sobre ele próprio, nossa relação com o meio ambiente e a Doutrina Espírita.
FE – Como e quando você se tornou espírita?
Trigueiro – Meu pai era católico, quase foi padre, e minha mãe espírita. Tivemos uma formação cristã. Meu ano de fome de conhecimento espírita foi 1987. Fui buscar na Doutrina as respostas que não encontrava no Catolicismo. Estava naquele momento da juventude de indagar o que seria a realidade espiritual, sentido da dor e sofrimento, em que medida interagimos com o plano espiritual e aquele contentamento que se tem quando nos deparamos com as respostas da espiritualidade maior. Comecei a devorar livros, a freqüentar o centro Joanna de Angelis, em Copacabana, a participar das atividades da Mocidade Espírita, a me engajar nos trabalhos da casa, na Baixada Fluminense etc.
FE – Como surgiu seu interesse pela Ecologia?
Trigueiro – A cobertura da Eco-92 mexeu comigo. Eu era repórter da Rádio Jornal do Brasil e cobri o Fórum Global, o encontro paralelo das ONGs, que reuniu organizações do mundo inteiro, no Aterro do Flamengo. Nas horas vagas, permanecia no local, acompanhando os debates. Na ocasião, a questão ambiental era para mim algo instigante, embora restrito a um círculo de iniciados. Mas logo descobri que esse era um assunto que deveria ser de domínio público, cada vez mais disseminado em nossa cultura. Ele determina comportamentos, é um novo paradigma.
FE – Você costuma dar palestras em centros espíritas? Quais temas costuma abordar?
Trigueiro – Além da Ecologia, um outro assunto recorrente em palestras é o suicídio. A Espiritualidade maior nos dirige um apelo para que atuemos mais fortemente na prevenção do suicídio, e eu passei a me interessar e me envolver com o assunto. O suicídio no Brasil é um caso de saúde pública. Sua incidência vem aumentando e isso é muito preocupante.
FE – Os espíritos dizem que precisamos destruir o materialismo e que ele é uma chaga na sociedade. Como você vê essa afirmação?
Trigueiro – Precisamos refletir sobre o que é necessário e supérfluo em nossas vidas, reduzir a nossa atração pelo que é apenas matéria e, portanto, descartável e perecível. Ser consumista significa ostentar onde há escassez, o que é um problema moral. O consumismo não é ecológico, pois acelera a degradação, a exaustão dos recursos naturais. Quando atacamos a biodiversidade, como estamos fazendo, estamos subtraindo a vida de espécies importantes para que o equilíbrio em escala planetária seja possível. Cada pequena espécie, por mais insignificante que seja, colabora para que esse equilíbrio exista. Devemos nos lembrar que, quanto mais atrasado o espírito, maior sua atração pela matéria e maior a vulnerabilidade aos valores da sociedade de consumo.
FE – Qual a responsabilidade do espírita para com o planeta?Trigueiro – O espírita precisa se dar conta de que, quando o planeta adoece, nosso projeto evolutivo fica comprometido. Emmanuel, em O Consolador, diz que o meio ambiente influi no espírito. Aos espíritas que mantém uma atitude comodista diante desse cenário, escorados talvez na premissa determinista de que tudo se resolverá quando se completar a transição da Terra (de mundo de expiações e de provas para o mundo de regeneração), é bom lembrar do que disse Santo Agostinho, no capítulo III, de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Ao descrever o mundo de regeneração, Santo Agostinho afirma que, mesmo livre das paixões desordenadas, num clima de calma e repouso, a humanidade ainda estará sujeita às vicissitudes de que não estão isentos senão os seres completamente desmaterializados; há ainda provas a suportar (...) e que ‘nesses mundos, o homem ainda é falível, e o espírito do mal não perdeu, ali, completamente o seu império. Não avançar é recuar e se não está firme no caminho do bem, pode voltar a cair nos mundos de expiação, onde o esperam novas e terríveis provas’. Ou seja, não há mágica no processo evolutivo: nós já somos os construtores do mundo de regeneração.
FE – O que deve ser corrigido?
Trigueiro – Se não corrigirmos o rumo na direção do desenvolvimento sustentável, prorrogaremos situações de desconforto já amplamente diagnosticadas. Não é possível esperar a chegada do mundo de regeneração de braços cruzados. Até porque, sem os devidos méritos evolutivos, boa parte de nós deverá retornar a esse mundo pelas portas da reencarnação. Se ainda quisermos encontrar aqui estoques razoáveis de água doce, ar puro, terra fértil, menos lixo e um clima estável, sem os flagelos previstos pela queima crescente de petróleo, gás e carvão que agravam o efeito estufa, deveremos agir agora, sem perda de tempo.
FE – Como fica o Brasil, nesse contexto?

Trigueiro – O Brasil é a maior nação espírita do mundo. Segundo Humberto de Campos, seria também o coração do mundo, a pátria do Evangelho. Mas é efetivamente o país campeão mundial de água doce, de biodiversidade, com a maior área de solos férteis disponíveis. Há um patrimônio biodiverso invejável. Temos uma riqueza que devemos explorar e respeitar, dentro de uma configuração do que será o mundo. Temos um trunfo que precisamos saber usar, não apenas economicamente, mas eticamente.   Conheça mais o trabalho de André Trigueiro acessando o site www.mundosustentavel.com.br

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O Bem e o Mal - Livro dos Espíritos

629. Que definição se pode dar à moral?
— A moral e a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus.
630. Como se pode distinguir o bem do mal?
— O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus;.fazer o mal é infringir essa lei.
631. O homem tem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal?
— Sim, quando ele crê em Deus e quando o quer saber. Deus lhe deu ainteligência para discernir um e outro.
632. O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal?
—Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos encanareis.
633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?
— Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem, é Deus que vos dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suasnecessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Se o homemescutasse, em todas as coisas, essa voz que. diz: chega!, evitaria a maior partedos males de que acusa a Natureza.
634. Por que o mal se encontra na natureza das coisas? Falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?
—Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. (Ver item 115.) Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. E necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isto é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo. (Ver item 119.)
635. As diferentes condições sociais criam necessidades novas que não são as mesmas para todos os homens. A lei natural pareceria, assim, não ser uma regra uniforme?
— Essas diferentes condições existem na Natureza e estão de acordo com a lei do progresso. Isso não impede u unidade da lei natural, que se aplica a tudo.
Comentário de Kardec: As condições de existência do homem mudam segundo as épocas e os lugares, e disso resultam para ele necessidades diferentes e condições sociais correspondentes a essas necessidades. Desde que essa diversidade está na ordem das coisas é conforme à lei de Deus, e essa lei, por isso,não é menos una em seu princípio. Cabe à razão distinguir as necessidades reais das necessidades fictícias ou convencionais.
636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens?
— A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal,qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau deresponsabilidade(1)
637. O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é culpado?
— Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem, o homem é tanto mais culpado quanto melhor sabe o que faz.
Comentário de Kardec: As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma gravidade relativa. O homem comete, freqüentemente, faltas que, sendo embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele tiver para compreender o bem e o mal. É assim que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável aos olhos de Deus que o selvagem que se entrega aos instintos.
638. O mal parece, algumas vezes, ser conseqüente da força das circunstâncias. Tal é, por exemplo, em certos casos, a necessidade de destruição, até mesmo do nosso semelhante. Pode-se dizer, então, que há infração à lei de Deus?
— O mal não é menos mal por ser necessário; mas essa necessidadedesaparece à medida que a alma se depura passando de uma para outraexistência; então se torna mais culpável quando o comete, porque melhor ocompreende.
639. O mal que se comete não resulta freqüentemente da posição em que os outros nos colocaram, e nesse caso quais são os mais culpáveis?
— O mal recai sobre aquele que o causou. Assim, o homem que é levado ao mal pela posição em que os outros o colocaram é menos culpável que aqueles que o causaram, pois cada um sofrerá a pena não somente do mal que tenha feito, mas também do que houver provocado.
640. Aquele que não faz o mal, mas aproveita o mal praticado por outro, é culpável no mesmo grau?
— É como se o cometesse; ao aproveitá-lo, torna-se participante dele. Talvez tivesse recuado diante da ação; mas, se ao encontrá-la realizada, dela se serve, é porque a aprova e a teria praticado se pudesse ou se tivesse ousado.
641. O desejo do mal é tão repreensível quanto o mal?
— Conforme; há virtude em resistir voluntariamente ao mal que se sente desejo de praticar, sobretudo quando se tem a possibilidade de satisfazer esse desejo; mas se o que faltou foi apenas a ocasião, o homem é culpável.
642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
— Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.
643. Há pessoas que, por sua posição, não tenham possibilidade de fazer o bem?
— Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta nãoencontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação comoutros homens para se fazer o bem, e cada dia da vida oferece essapossibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo, porque fazer o bem não é apenas ser caridoso mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxíliose faça necessário.
644. O meio em que certos homens vivem não é para eles o motivo principal de muitos vícios e crimes?
— Sim, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo Espírito no estado de liberdade; ele quis se expor à tentação para ter o mérito da resistência.
645. Quando o homem está mergulhado na atmosfera do vício, o mas não se torna para ele um arrastamento quase irresistível?
Arrastamento, sim; irresistível, não; porque, no meio dessa atmosfera de vícios, podes encontrar grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boainfluência sobre os seus semelhantes.
646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?
— O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-lo sem penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.

(1) As pesquisas sociológicas deram motivo a uma reavaliação, em nosso tempo, do conceito tradicional de moral. Entendeu-se que a moral é variável, porque o bem de um povo pode ser mal para outro e vice-versa. Renouvier, entretanto, em “Science de Ia morale”, a compara às matemáticas: é uma ciência que deve fundar-se em puros conceitos. Os sociólogos confundiram moral e costumes, mas ultimamente já distinguiram, na confusão dos costumes, uma regra geral, que é a aspiração comum do bem Bergson, em “Lês deux sources de Ia morale et de Ia religion”, estabelece dois tipos de moral: a fechada, que decorre da coação social, e a aberta, que é individual e não se sujeita às convenções. A moral relativa é a convencional, enquanto a moral absoluta é a ditada pela aspiração universal do bem, pela Lei de Deus gravada nas consciências. (N. do T.)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O fanatismo religioso

Pergunta:
 Temos vivido, no mundo atual, uma tentativa de estabelecimento da paz e da tolerância. Como explicar a existência de vários grupos fundamentalistas islâmicos, radicais de extrema direita israelense, milícias curdas etc, que contrários ao desejo da maioria, ainda espalham o terror?

Resposta do espírito Vianna de Carvalho:
 Enquanto viger o primarismo em a natureza humana, a sociedade enfrentará o fanatismo, o preconceito, a violência, o crime, que são filhos asselvajados do egoísmo em desgoverno nesses indivíduos portadores de pensamento primitivo, que ainda se encontram nos primórdios da evolução e se reencarnam na Terra, a fim de se desenvolverem e se tornarem instrumentos de reparação junto àqueles que com eles sintonizam e se encontram em débito perante a Consciência Cósmica.
 A educação, com o seu objetivo superior de terapia preventiva, o convívio social edificante, os exemplos de dignidade e solidariedade humana que vicejam na Humanidade são os antídotos para esse mal, eliminando lentamente as tendências primárias, limando-lhes as arestas morais e auxiliando-os no desenvolvimento espiritual que se lhes torna indispensável.
 Eles encontram oportunidade para desenvolver essas aptidões perturbadoras e aplicá-las, por conseguirem campo psíquico equivalente nas organizações sociais civilizadas, que ainda oprimem e matam, discriminam os fracos e sofredores, açulando-lhes os impulsos bárbaros que os levam a considerar-se mártires das causas que abraçam e a elas se entregam com o sacrifício da própria vida.
  (livro Atualidade do pensamento espírita, Vianna de Carvalho, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Livraria Espírita Alvorada Editora, pág. 153)