segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Espírita e o Mundo Atual

A Terra está passando por um período crítico de crescimento. Nosso pequenino mundo, fechado em concepções mesquinhas e acanhados limites, amadurece para o infinito. Suas fronteiras se abrem em todas as direções. Estamos às vésperas de uma Nova Terra e um Novo Céu, segundo as expressões do Apocalipse. O Espiritismo veio para ajudar a Terra nessa transição.
Procuremos, pois, compreender a nossa responsabilidade de espíritas, em todos os setores da vida contemporânea. Não somos espíritas por acaso, nem porque precisamos do auxílio dos Espíritos para a solução dos nossos problemas terrenos. Somos espíritas porque assumimos na vida espiritual graves responsabilidades para esta hora do mundo. Ajudemo- nos a nós mesmos, ampliando a nossa compreensão do sentido e da natureza do Espiritismo, de sua importante missão na Terra. E ajudemos o Espiritismo a cumpri- la.
O mundo atual está cheio de problemas e conflitos. O crescimento da população, o desenvolvimento econômico, o progresso científico, o aprimoramento técnico, e a profunda modificação das concepções da vida e do homem, colocam-nos diante de uma situação de assustadora instabilidade. As velhas religiões sentem- se abaladas até o mais fundo dos seus alicerces.
Ameaçam ruir, ao impacto do avanço científico e da propagação do ceticismo.
Descrentes dos velhos dogmas, os homens se voltam para a febre dos instintos, numa inútil tentativa de regressar à irresponsabilidade animal.
O espírita não escapa a essa explosão do instinto. Mas o Espiritismo não é uma velha religião nem uma concepção superada. 
É uma doutrina nova, que apareceu precisamente para alicerçar o futuro. Suas bases não são dogmáticas, mas científicas, experimentais. Sua estrutura não é teológica, mas filosófica, apoiada na lógica mais rigorosa. Sua finalidade religiosa não se define pelas promessas e as ameaças da Teologia, mas pela consciência da liberdade humana e da responsabilidade espiritual de cada indivíduo, sujeita ao controle natural da lei de causa e efeito. O espírita não tem o direito de tremer e apavorar- se, nem de fugir aos seus deveres e entregar-se aos instintos. Seu dever é um só: lutar pela implantação do Reino de Deus na Terra.
Mas como lutar? (...) A luta do espírita é incessante. As suas frentes de batalha começam no seu próprio íntimo e vão até os extremos limites do mundo exterior. Mas o espírita não está só, pois conta  com o auxílio constante dos Espíritos do Senhor, que presidem à propagação e ao desenvolvimento do Espiritismo na Terra.
A maioria dos espíritas chegou ao Espiritismo tangidos pela dor, pelo sofrimento físico ou moral, pela angústia de problemas e situações insolúveis. Mas, uma vez integrados na Doutrina, não podem e não devem continuar com as preocupações pessoais que motivaram a sua transformação conceitual. O Espiritismo lhes abriu a mente para uma compreensão inteiramente nova da realidade. É necessário que todos os espíritas procurem alimentar,  cada vez mais essa nova compreensão da vida e do mundo, através do estudo e da meditação. É necessário também que aprendam a usar a poderosa arma da prece, tão desmoralizada pelo automatismo habitual a que as religiões formalistas a relegaram.
A prece é a mais poderosa arma de que o espírita dispõe, como ensinou Kardec , como o proclamou Léon Denis e como o acentuou Miguel Vives. A prece verdadeira, brotada do íntimo, como a fonte límpida a brotar das entranhas da terra, é de um poder não calculado pelo homem. O espírita deve utilizar- se constantemente da prece. Ela lhe acalmará o coração inquieto e aclarará os c aminhos do mundo. A própria ciência materialista está hoje provando o poder do pensamento e a sua capacidade de transmissão ao infinito. O pensamento empregado na prece leva ainda a carga emotiva dos mais puros e profundos sentimentos. O espírita já não pode duvidar do poder da prece, pregado pelo Espiritismo. Quando alguns "mestres" ocultistas ou espíritas desavisados chamarem a prece de muleta, o espírita convicto deve lembrar que o Cristo também a usava e também a ensinou. Abençoada muleta é essa, que o próprio Mestre dos Mestres não jogou à margem do caminho, em sua luminosa passagem pela T erra!
O espírita sabe que a morte não existe,  que a dor não é uma vingança dos deuses ou um castigo de Deus, mas uma força de equilíbrio e uma lei de educação, como explicou Léon Denis. Sabe que a vida terrena é apenas um período de provas e expiações, em que o espírito imortal se aprimora, com vistas à vida verdadeira, que é a espiritual. Os problemas angustiantes do mundo atual não podem perturbá- lo. Ele está amparado, não numa fortaleza perecível, mas na  segurança dinâmica da compreensão, do percebimento constante da realidade viva que o rodeia e de que ele mesmo é parte integrante. As mudanças incessantes das coisas, que nos revelam a instabilidade do mundo, já não podem assustar o espírita, que conhece a lei de evolução. Como pode ele inquietar- se ou angustiar- se, diante do mundo atual?
O Espiritismo lhe ensina e demonstra que este mundo em que agora nos encontramos, longe de nos ameaçar com morte e destruição,  acena- nos com ressurreição e vida nova. O espírita tem de enfrentar o mundo atual com a confiança que o Espiritismo lhe dá, essa confiança racional em Deus e nas suas leis admiráveis, que regem as constelações atômicas no seio da matéria e as constelações astrais no seio do infinito. O espírita não teme, porque conhece o processo da vida, em seus múltiplos aspectos, e sabe que o mal é um fenômeno relativo, que caracteriza os mundos inferiores. Sobre a sua cabeça rodam diariamente os mundos superiores, que o esperam na distância e que os próprios materialistas hoje procuram atingir com os seus foguetes e as suas sondas espaciais. Não são, portanto, mundos utópicos, ilusórios, mas realidades concretas do Universo visível.
Confiante em Deus, inteligência suprema do Universo e causa primária de todas as coisas, - poder supremo e indefinível, a que as religiões dogmáticas deram a aparência errônea da própria criatura humana, - o espírita não tem o que temer,  desde que procure seguir os princípios sublimes da sua Doutrina. Deus é amor, escreveu o apóstolo João. Deus é a fonte do Bem e da Beleza, como afirmava Platão. Deus é aquela necessidade lógica a que se referia Descartes,  que não podemos tirar do Universo sem que o Universo se desfaça. O espírita sabe que não tem apenas crenças, pois possui conhecimentos. E quem conhece não teme, pois só o desconhecido nos apavora.
O mundo atual é o campo de batalha do espírita. Mas é também a sua oficina, aquela oficina em que ele forja um mundo novo. Dia a dia ele deve bater a bigorna do futuro. A cada dia que passa, um pouco do trabalho estará feito.
O espírita é o construtor do seu próprio futuro do mundo. Se o espírita recuar, se temer,  se vacilar, pode comprometer a grande obra. Nada lhe deve perturbar o trabalho, na turbulenta,  mas promissora oficina do mundo atual.
Em resumo:
O espírita é o consciente construtor de uma nova forma de vida humana na T erra e de vida espiritual no Espaço; sua responsabilidade é proporcional ao seu conhecimento da realidade, que a Nova Revelação lhe deu; seu dever de enfrentar as dificuldades atuais, e transformá- las em novas oportunidades de progresso, não pode ser esquecido um momento sequer; espíritas, cumpramos o nosso dever!
Autor: José Herculano Pires
Inspirado por: Miguel Vives
Livro Tesouro dos Espíritas


quinta-feira, 25 de abril de 2013

A morte na infância

– Por que a vida se interrompe com tanta frequência na infância?
“A duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que nela está encarnado, o complemento de uma existência interrompida antes do término devido, e sua morte, quase sempre, constitui provação ou expiação para os pais.” (Questão 199, de O Livro dos Espíritos.)
A morte de crianças, seres recém iniciados na vida física, desafia há séculos a inteligência humana, que busca razões filosófico/religiosas para os motivos desta ocorrência. 
À luz das religiões tradicionais fica difícil, senão impossível, entender Deus que, aparentemente de forma injusta, retira do seio familiar seres ainda não comprometidos perante a lei divina, na visão da unicidade da existência. 
No Espiritismo, doutrina que demonstra as múltiplas existências do Espírito -reencarnação –, encontra-se explicações lógicas para tal ensejo, compreendendo a perfeita justiça e misericórdia divina na morte das crianças. 
André Luiz ¹ afirma que “Muitas existências são frustradas no berço, não por simples punição externa da Lei Divina, mas porque a própria Lei Divina funciona para todos nós, desde que todos existimos no hausto do Criador”. 
A lei de causa e efeito é inexorável a todas as criaturas. Quando a lei divina é violada, se faz necessário a reparação inevitável pelo agente causador, para o seu próprio prosseguimento evolutivo. 
“Frequentemente, através do suicídio, integralmente deliberado, ou do próprio desregramento, operam em nossa alma calamitosos desequilíbrios (...)” que“(...) determinam processos degenerativos e desajustes nos centros essenciais do psicosssoma (...)”, afetando no campo da natureza íntima do ser, que necessitam de reajustes através dos processos cármicos reencarnatórios. 
Frente ao impacto da desencarnação provocada, a alma entra em “pavoroso colapso” e “indescritíveis flagelações”, que podem conduzir estas mentes perturbadas, já na dimensão espiritual, para processos de loucura profunda. 
Torna-se imperioso, após certo período na erraticidade, a reintegração deste Espírito no plano carnal, como enfermos graves, em breves períodos de vida física, para, com a colaboração dos encarnados, se reabilitarem gradativamente dos débitos adquiridos conjuntamente.  
Então renascem Espíritos comprometidos em corpos com debilidades físicas ou mentais, para tratamento e recuperação do corpo espiritual em distonia.   
Quando ocorre a morte acidental ou violenta de crianças, muitas vezes, são reações de um Espírito comprometido em existência anterior a problemas do suicídio associado ao homicídio, sendo esta dolorosa forma de desencarne a tradução inevitável no ciclo do resgate.
Excetuando os casos de Espíritos missionários ou em estágios de provação, as existências interrompidas no alvorecer da vida física “(...) representam cursos rápidos de socorro ou tratamento no corpo espiritual desequilibrado por nossos próprios excessos e inconsequências (...)”. 
Deus, justo e bom, oportuniza a todas as criaturas a possibilidade de recomeço, sendo a escola da vida o educandário que merece o nosso apreço. O corpo físico, como instrumento de manifestação do Espírito, faz jus ao respeito e cuidados necessários para o seu bom aproveitamento, cabendo-nos o aperfeiçoamento em amor e sabedoria, aprimorando a Vida na busca da aproximação com o Criador. 
Importante ressaltar que a criança que desencarna recebe todo o amparo dos benfeitores espirituais e recomeça na erraticidade a preparação para uma nova existência no plano físico, na maioria das vezes com uma carga menor de comprometimentos.
LUIS ROBERTO SCHOLL 
robertoscholl@terra.com.br
Santo Ângelo, Rio Grande do Sul (Brasil)
¹ Todos os textos e palavras destacadas em itálico foram extraídos do livro Evolução em Dois Mundos, de André Luiz/Francisco Xavier e Waldo Vieira, Federação Espírita Brasileira, 22. ed.- 2004, p.261-265.  

domingo, 21 de abril de 2013

Oração de todos os dias


Senhor,
Fazei-me perceber que o trabalho do bem me aguarda em toda parte.
Não me consistas perder tempo através de indagações inúteis.
Lembra-me por misericórdia, que estou no caminho da evolução, com os meus semelhantes, não para consertá-los e sim para atender a minha própria melhoria.
Induza-me a respeitar os direitos alheios, afim de que os meus sejam preservados.
Dê-me consciência do lugar que me compete, para que não esteja a exigir da vida aquilo que não me pertence.
Não me permita sonhar com realizações incompatíveis com os meus recursos, entretanto por acréscimo de bondade fortaleça-me para execução das pequeninas tarefas ao meu alcance.
Apaga-me os melindres pessoais, de modo que não me transforme em estorvo diante dos irmãos aos quais devo convivência e cooperação. 
Auxilia-me a reconhecer que cansaço e dificuldade não pode converter-me em pessoa intratável, mas mostra-me por piedade quanto posso fazer nas obras usando paciência e coragem acima de quaisquer provações que me atinjam a existência.
Concede-me forças para irradiar a paz e o amor que nos ensinastes, e sobretudo Senhor, perdoa as minhas fragilidades e sustenta a minha fé para que eu possa estar sempre em ti, servindo aos outros.
Que assim seja!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

156 anos do Livro dos Espíritos


Em 18 de abril de 1857, vinha a lume uma obra, que é considerada pelos espíritas como o marco inicial do Espiritismo, O Livro dos Espíritos.
Organizado em forma de perguntas e respostas, a constituição do livro foi fruto de um trabalho coordenado pelo francês Hippolyte Leon Denizar Rivail, Allan Kardec, que reuniu e organizou mensagens ditadas pelos Espíritos Superiores.
A primeira edição de O Livro dos Espíritos possui apenas 501 questões. Após seu lançamento, Kardec iniciou um processo de revisão do trabalho que resultou em 1960, no lançamento da segunda edição do livro, já com 1.019 perguntas. Os temas abordados na obra variam desde origem e a destinação futura do homem, até questões fundamentais como o que é Deus. Kardec também se preocupou em apresentar a essência da Doutrina Espírita, mostrando o seu tríplice aspecto que contempla questões filosóficas, a ciência espírita e a religião, ao propor a aproximação do homem a Deus.
"O Livro dos Espíritos" é a obra que contém os princípios da Doutrina Espírita, sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e sua relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o futuro da Humanidade segundo os ensinos dados pelos Espíritos Superiores com a ajuda de diversos médiuns. A obra se divide em quatro partes ou livros:
Livro Primeiro – As causas primeiras: aborda a noção de divindade, Criação e elementos fundamentais do Universo.
Livro Segundo – Mundo Espírita ou dos Espíritos: analisa a noção de Espírito e toda a série de imperativos que se ligam a esse conceito, a finalidade de sua existência, seu potencial de auto-aperfeiçoamento, sua pré e sua pós-existência e ainda as relações que estabelece com a matéria.
Livro Terceiro – As leis morais: trabalha o conceito de Leis de ordem Moral, consideradas como as leis naturais ou Divinas, a que está submetida toda a Criação. São elas: lei de adoração, de trabalho, de reprodução, de conservação, de destruição, de sociedade, de progresso, de igualdade, de liberdade e de justiça, amor e caridade.
Livro Quarto – Esperanças e Consolações: consiste em ponderações sobre o futuro do homem, seu estado após a morte, as alegrias e obstáculos que encontra na vida além-túmulo.

terça-feira, 9 de abril de 2013

As virtudes essenciais - por Marta Antunes Moura


A palavra virtude (do latim virtus) designa excelência ou qualidade.  O significado é genérico quando aplicado a tudo o que é considerado correto e desejável em relação à moral, à ética, à vida em sociedade, às práticas educacionais, científicas e tecnológicas, assim como à eficácia na execução de uma atividade.  Em sentido específico o conceito se restringe a duas capacidades humanas:  conduta moral no bem e habilidades para fazer algo corretamente.
Em relação a este assunto, elucidam os orientadores da Codificação Espírita:
Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem.  Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores.  A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto.  A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade”.
O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) classificou as virtudes em dois grupos, quanto à natureza, ambos aceitos nos dias atuais: virtudes éticas ou do caráter – indicam todas as qualidades ético-morais, inclusive o dever, as quais nem sempre são submetidas à razão;virtudes dianoéticas ou do pensamento – abrangem as competências intelectuais (inteligência, discernimento, conhecimento científico, aptidões técnicas), controladas pela razão.
As primeiras são desenvolvidas pela educação e pela prática que conduz ao hábito.  Filósofos, do passado e do presente, defendem a ideia de que as virtudes ético-morais são dons inatos, desenvolvidos por seres humanos especiais.  Diferentes interpretações religiosas pregam que essas virtudes somente ocorrem por graça ou concessão divinas.  As segundas, as virtudes dianoéticas ou do pensamento, podem ser ensinadas por meio da instrução, daí serem muito valorizadas pelas ciências humanas, sobretudo as educacionais.
O Espiritismo considera que as virtudes são aquisições do Espírito imortal, adquiridas e desenvolvidas por meio de trabalho incessante no bem:
[...] a virtude é sempre sublime e imorredoura aquisição do Espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio.
Importa destacar que a classificação aristotélica é, na verdade, uma síntese dos ensinamentos de Sócrates (470-399 a.C.), posteriormente transmitidos por Platão (428/427-347 a.C.) em seu livro A República.  Para Sócrates, a virtude se identifica com o bem (aspecto moral) e representa o fim da atividade humana (aspecto funcional ou operacional).  Pelo aspecto moral sabe o homem virtuoso distinguir o bem e o mal.  Pelo sentido funcional, ou fim da atividade humana, a virtude é capacidade ou habilidade de realizar corretamente uma tarefa.  Contudo, tanto Sócrates como Platão entendiam que as virtudes eram dons inatos, ainda que esses filósofos possuíssem conhecimentos sobre a vida no além-túmulo e sobre as reencarnações sucessivas.
O seguinte texto, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ilustra o assunto:
  • Palavras de Sócrates, registradas por Platão:  “A virtude não pode ser ensinada; vem por dom de Deus aos que a possuem”.
  • Interpretação espírita, fornecida por Allan Kardec:
É quase a doutrina cristã sobre a graça; mas, se a virtude é um dom de Deus, é um favor e, então, pode perguntar-se por que não é concedida a todos.  Por outro lado, se é um dom, carece de mérito para aquele que a possui.  O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições.  A graça é a força que Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o bem.
Sócrates e Platão, entretanto, desenvolveram notável sistema filosófico sobre as virtudes, denominando-o Virtudes Cardeais.  Essas virtudes, inseridas em seguida, são consideradas essenciais por representarem a chave para a aquisição de todas as demais:
  • Prudência, também conhecida como sabedoria.  É a virtude que controla a razão.
  • Fortaleza, entendida como coragem.  É a virtude do entusiasmo (thymoiedés), a que administra os impulsos da sensibilidade, dos sentimentos e do afeto.
  • Temperança, vista como autodomínio, medida, moderação.  Essa virtude age sobre os impulsos do instinto, colocando freios nos prazeres e nas paixões corporais.
  • Justiça, estabelece o discernimento entre o bem e o mal.  É a virtude que conduz à equidade; ao saber considerar e respeitar o direito do outro; a valorizar ações e coisas que garantem o funcionamento harmonioso da vida, individual e coletiva.
Essa classificação não só permitiu a Aristóteles elaborar o seu sistema de virtudes éticas e dianoéticas, mas também exerceu forte influência no pensamento teológico dos chamados pais da igreja, durante a Idade Média, sobretudo no desenvolvimento das teses de Agostinho (354-430) e Tomás de Aquino (1225-1274), os quais fizeram acréscimos às virtudes cardeais socráticas, a partir da análise dos textos do Evangelho.  Esses acréscimos foram denominados Virtudes Teologais e se resumem nas seguintes:  esperança e caridade.
As orientações teológicas católicas e protestantes preservaram as ideias socráticas e platônicas, no sentido de que as virtudes são concessões divinas, revestindo-as, porém, de um aspecto sobrenatural, de acordo com este raciocínio:  se as virtudes representam uma graça de Deus só podem ser concedidas aos santos, nunca ao ser humano comum.
Com o Espiritismo, porém, tudo se aclara, felizmente.  Entendemos que somos seres perfectíveis, construtores do próprio destino.  A aquisição e desenvolvimento de virtudes são entendidos como necessidade evolutiva do Espírito, um meio para regular os atos humanos, ordenar as paixões e guiar a conduta humana, segundo os preceitos da razão, da moral e da fé.
As pessoas virtuosas destacam-se das demais, não porque são especialmente marcadas por Deus, mas porque souberam aproveitar as lições da vida e investiram no aprendizado, moral e intelectual, ao longo das reencarnações e das experiências vividas no plano espiritual, após a morte do corpo físico.  Encontram-se muito distantes da santidade, entretanto, revelam-se como Espíritos que “[...] lutaram outrora e triunfaram.  Por isso é que os bons sentimentos nenhum esforço lhe custam e suas ações lhes parecem simplíssimas.  O bem se lhes tornou um hábito [...]”.
A forma como a Doutrina Espírita caracteriza a virtude e o homem virtuoso está sintetizada na belíssima mensagem do Espírito François-Nicolas-Madeleine, constante em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ditada em Paris, em 1863:
A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem.  Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso.  Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas enfermidades morais que as desornam e atenuam.  Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, pois que lhe falta a qualidade principal:  a modéstia, e tem o vício que mais se lhe opõe:  o orgulho.  A virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de estadear-se.  Adivinham-na; ela, porém, se oculta na obscuridade e foge à admiração das massas.  [...] À virtude assim compreendida e praticada é que vos convido, meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é que vos concito a consagrar-vos.  Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja orgulho, vaidade, amor-próprio, que sempre desadornam as mais belas qualidades.  Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio, suas qualidades a todos os ouvidos complacentes.  A virtude que assim se ostenta esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas covardias.
Autor:  Marta Antunes Moura
Revista Reformador (Federação Espírita Brasileira)
Revista de Espiritismo Cristão
Ano:  217 – Nº:  2.158 – Janeiro de 2009
Páginas:  24 à 26
Livros (Referências):
  1. KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – Tradução de Guillon Ribeiro – 91 Edição – 1ª reimpressão – Rio de Janeiro – Federação Espírita Brasileira (FEB) – Questões nº 893 e 894 – 2008.
  1. XAVIER, Francisco Cândido – O Consolador – Pelo Espírito Emmanuel – 28 Edição – Rio de Janeiro – Federação Espírita Brasileira (FEB) – Questão nº 253 – 2008.
  1. KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Tradução de Guillon Ribeiro – 127 Edição – Rio de Janeiro – Federação Espírita Brasileira (FEB) – “Introdução IV”, Item XVII – 2007.
  1. KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Tradução de Guillon Ribeiro – 127 Edição – Rio de Janeiro – Federação Espírita Brasileira (FEB) – Capítulo XVII, item 08 – 2008