segunda-feira, 27 de maio de 2013

A minha primeira iniciação no Espiritismo


P. — Disseram os Espíritos que os tempos são chegados em que tais coisas têm de acontecer: em que sentido se devem tomar essas palavras?
R. — Em se tratando de coisas de tanta gravidade, que são alguns anos a mais ou a menos? Elas nunca ocorrem bruscamente, como o chispar de um raio; são longamente preparadas por acontecimentos parciais que lhes servem como que de precursores, quais os rumores surdos que precedem a erupção de um vulcão. Pode-se, pois, dizer que os tempos são chegados, sem que isso signifique que as coisas sucederão amanhã. Significa unicamente que vos achais no período em que se verificarão.

P. — Confirmas o que foi dito, isto é, que não haverá cataclismos?
R. — Sem dúvida, não tendes que temer nem um dilúvio, nem o abrasamento do vosso planeta, nem outros fatos desse gênero, porquanto não se pode denominar cataclismos a perturbações locais que se têm produzido em todas as épocas. Apenas haverá um cataclismo de natureza moral, de que os homens serão os instrumentos.

In: `A  minha primeira iniciação no Espiritismo', comunicação de 12 de maio de 1856, Sessão pessoal em casa do Sr. Baudin. Obras Póstumas - Allan Kardec

domingo, 26 de maio de 2013

A caridade da vida cotidiana


Segundo o codificador Allan Kardec, toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade. A caridade se opõe ao egoísmo, enquanto a humildade se opõe ao orgulho. Esses dois – o egoísmo e o orgulho – segundo Kardec, são as maiores fontes de todos os outros males da humanidade (ver capítulo XV – “Fora da Caridade não há Salvação” de “O Evangelho segundo o Espiritismo”). Em todos os ensinamentos de Jesus, a caridade e a humildade são exemplificadas pelo seu próprio comportamento, como condições indispensáveis para a absoluta felicidade futura. E de fato, se observarmos com muito cuidado, nossos atos de amor quando são manifestados do fundo de nossos corações, factualmente nos tornam mais felizes.
Ao falar da “Caridade da Vida Cotidiana”, que é o título desse artigo, o meu objetivo não é discorrer, por exemplo, sobre a caridade que consiste no ato de oferecer uma “esmola” aos mais necessitados – embora essa seja também importante – mas sim, sobre um tipo de caridade que talvez seja mais difícil, pois para ser expresso deve fazer parte mesmo das menores atitudes de nosso dia-a-dia: trata-se do respeito nas relações
humanas.
Segundo o Espírito Albert Camus (no livro “Pensamentos sobre o Ser” psicografado pela médium Nora T. M. N. Sakamoto) respeitar implica em não agredir (seja física ou verbalmente), e além disso, saber aceitar cada pessoa com suas manias, idéias, propósitos e atos. Implica em acatar o comportamento do outro e em compreendê-lo; algumas vezes renunciar às vontades próprias no respeito-amor, bem como o perdão automático no respeito-cristão. O autor espiritual salienta que respeito não significa submissão, passividade ou ausência de pensamento próprio, mas a nobreza  de permitir que as criaturas tracem seus valores e os vivam. Respeito implica também em condescendência, atenção, ajuda, amparo, carinho, amizade, solidariedade. Como toda caridade, o respeito nas relações humanas demanda a virtude da paciência. A caridade da vida cotidiana engloba o conhecimento e o esclarecimento que não se engaveta para um momento oportuno, mas ao contrário, deve se fazer presente em todos os momentos da encarnação, na prática diária e variada em seus múltiplos aspectos. Albert Camus faz um comentário bastante interessante sobre a questão da agressão no comportamento humano – criticamente e com razão, afirma que muitos psicólogos defendem que o homem tem a necessidade “inata” de agredir, e que ela deve ser respeitada. O autor espiritual, discordando dessa posição, então, indaga: “Mas, como respeitar o desrespeito” ?
Na verdade, do ponto de vista da psicologia, simplesmente tentar reprimir a agressividade, sem qualquer tentativa de clarificação sobre o significado de tal comportamento, pode trazer resultados até piores, como por exemplo, doenças psicossomáticas (ou seja, distúrbios emocionais da mente sobre o corpo, como dores e estresse), descontrole emocional (incluindo comportamentos agressivos descontrolados), etc. Mas como afirmou Camus, não se trata, porém, de simplesmente “respeitar” essa hipotética “necessidade humana” de agredir. Para vencermos os nossos impulsos agressivos, torna-se necessário a revisão de nossos valores ético-morais, através da Reforma Íntima, essa calcada em um processo particular de desenvolvimento pessoal baseado no autoconhecimento.
Quando uma pessoa agride ao outro, ela está a agredir a si própria também, pois em termos cósmicos todos fazemos parte de um Grande Todo que é a Unidade do Universo. Essa consciência e esse esclarecimento – comum a seres altamente evoluídos como Gandhi, Chico Xavier, Dalai Lama, e outros – é presente entre aqueles que “naturalmente” e sem qualquer esforço, não agridem em nenhuma circunstância. No estágio que a humanidade hoje se encontra, um tal estado evolutivo de consciência para ser alcançado, implica na necessidade de vencermos a nós mesmos, pela firme decisão de participarmos ativamente do próprio Universo.
Do ponto de vista ético e social, para tanto torna-se necessário o desenvolvimento da filantropia, ou seja, do amor à humanidade. Sabemos pelo mandamento maior, ensinado por Jesus, que amar ao próximo é amar a Deus, e vice versa.
Assim, a filantropia, a ação e a consciência social, se traduz na consciência e no amor em Deus. Por sua vez, a agressão ao próximo, se traduz pela agressão ao Pai Maior. Segundo esse raciocínio, é muito triste pensarmos o quanto nós cotidianamente agredimos ao nosso Pai Celestial, todas as vezes que agredimos os nossos irmãos da Terra. Mas, torna-se consolador sabermos que o nosso Deus de Amor, com sua infinita compreensão e bondade, sempre está disponível para nos perdoar, oferecendo-nos novas chances de adentrarmos em seu caminho construtivo para o Bem e para a Felicidade.
Algumas vezes precisamos suportar as consequências de nossos próprios erros, para aprendermos essa Lição Universal – essa é a Lei de Ação e Reação, que não é um castigo divino, como alguns pensam, mas sim uma sensibilização existencial para que o Espírito se auto-organize para a evolução progressiva do Universo.
Nesse contexto, como diria o psicólogo humanista Carl Rogers, a “aceitação integral positiva do outro”, deve incluir a aceitação das suas deficiências, e o amparo de suas conquistas, sem as exigências de tempo impostas pela nossa vontade de mudar o outro, mas sim pelo próprio ritmo do irmão em evolução. Segundo Camus, no momento em que todos se virem como seres imperfeitos, mas em evolução e, portanto, mudarem seus propósitos de crítica para compreensão e conquistas, de violência paraconhecimento, de obrigatoriedade para possibilidade, então terão encontrado o maior dos elos da corrente da Paz Mundial.
Quanto à renúncia às vontades, essa deve ocorrer sem que o ser perca a essência de si próprio, sem anular-se, sem tornar a renúncia uma atividade covarde e calculista.
A renúncia, como parte do respeito, na caridade da vida cotidiana, é aquela que mantém viva a personalidade, mas que, exatamente por isso, se impõe e não exige. É a renúncia que engrandece o indivíduo por indicar o padrão de conquistas do mesmo, sobre o próprio egoísmo. Renunciar a fatos por amor ou caridade, que fique bem claro, não significa renunciar a si mesmo, mas sim que os fatos e situações já não dominam a criatura.
Por fim, falemos do perdão automático. Na caridade da vida cotidiana, o perdão é a libertação do indivíduo de si mesmo, mobilizando energias que alteram o comportamento e o ritmo metabólico do ser. Perdoar é voltar à sintonia universal, abalada por um momento ou situação desarmônica. Mas para isso se faz necessário o cultivo do maior poder presente do universo – o Amor. Como afirma o psicólogo cristão-existencialista  Rollo May, é impossível conhecer-se outra pessoa sem que a amemos, no sentido mais amplo da palavra. Mas, essa situação significa que ambas as pessoas serão transformadas pela própria identificação resultante do amor. O amor – segundo Rollo May – possui uma força psicológica fabulosa. É a força mais poderosa disponível no campo da influenciação e transformação da personalidade.
Assim - voltando ao espírito Albert Camus - sugere ele o seguinte: “... pensem sobre a renúncia nas relações humanas e pensem que as criaturas são parte essencial de um Universo de Amor e que quando todos exprimirem realmente em sua potencialidade esse Amor não haverá necessidade de renúncia”.
Referências Bibliográficas
 Kardec, A. (1863). O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo: Instituto de
difusão Espírita, 1978. (tradução de Salvador Getile).
 Camus, Albert (Autor Espiritual). Pensamentos sobre o Ser. Matão: Casa Editora O
Clarim, 1995.
 May, Rollo. A arte do aconselhamento psicológico. Petrópolis: Vozes, 1982.
Adalberto Ricardo Pessoa
Psicólogo Clínico e Analista Junguiano formado pela USP
Membro da Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas (ABRAPE)

sábado, 11 de maio de 2013

Leis Morais

Das Leis Morais

– Parte terceira – Livro dos Espíritos – Capítulo I –

Da lei divina ou natural

1 Caracteres da lei natural. 2 Origem e conhecimento da lei natural. 3 O bem e o mal. 4 Divisão da lei natural.
    1 Caracteres da lei natural
A lei natural é lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta. Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo. Para que o homem possa aprofundar-se nas leis de Deus é preciso muitas existências.
Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: as leis físicas, cujo estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas suas relações com Deus e com seus semelhantes. Contêm as regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma: são as leis morais.
    2 Origem e conhecimento da lei natural
Todos podem conhecer a lei de Deus, mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue. A alma compreende a lei de Deus de acordo com o grau de perfeição que tenha atingido e dela guarda a intuição quando unida ao corpo. Essa lei está escrita na consciência do homem. Como ele a esquece e despreza, Deus a lembra através de seus missionários, que são Espíritos superiores que se encarnam na Terra, com a missão de fazer progredir a humanidade.
O caráter do verdadeiro profeta é ser um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos atos. Impossível é que Deus se sirva da boca de um mentiroso para ensinar a verdade. Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito divino o animava. Jesus pregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister, agora, que a verdade se torne inteligível para todo mundo, daí porque vieram os Espíritos trazer o ensino claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.
    3 O bem e o mal
A moral é a regra do bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Deus deu inteligência ao homem para distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal.
Os Espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mal. Eis porque se une ao corpo.
A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende, principalmente, da vontade que se tenha de o praticar. Tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz. Não basta que o homem deixe de praticar o mal; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem. Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Para certos homens, o meio onde se acham colocados representa a causa primária de muitos vícios e crimes, mas, ainda aí, há uma prova que o Espírito escolheu, quando em liberdade, levado pelo desejo de expor-se à tentação para ter o mérito da resistência. O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbulo da viúva.
    4 Divisão da lei natural
A lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo, ensinado por Deus. Esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Demais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida e esse preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas a interpretações.
A divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade,é de natureza a abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Entretanto, a última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras.

terça-feira, 7 de maio de 2013

A reforma íntima


Quanto puderes, posterga a prática do mal até o momento que possas vencer essa força doentia que te empurra para o abismo.
Provocado pela perversidade, que campeia a solta, age em silêncio, mediante a oração que te resguarda na tranqüilidade.
Espicaçado pelos desejos inferiores, que grassam, estimulados pela onde crescente do erotismo e da vulgaridade, gasta as tuas energias excedentes na atividade fraternal.
Empurrado para o campeonato da competição, na área da violência, estuga o passo e reflexiona, assumindo a postura da resistência passiva.
Desconsiderado nos anseios nobres do teu sentimento, cultiva a paciência e aguarda a bênção do tempo que tudo vence.
Acoimado pela injustiça ou sitiado pela calúnia, prossegue no compromisso abraçado, sem desânimo, confiando no valor do bem.
Aturdido pela compulsão do desforço cruel, considera o teu agressor como infeliz amigo que se compraz na perturbação.
Desestimulado no lar, e sensibilizado por outros afetos, renova a paisagem familiar e tenta salvar a construção moral doméstica abalada.
É muito fácil desistir do esforço nobre, comprazer-se por um momento, tornar-se igual aos demais, nas suas manifestações inferiores. Todavia, os estímulos e gozos de hoje, no campo das paixões desgovernadas, caracterizam-se pelo sabor dos temperos que se convertem em ácido e fel, a requeimarem por dentro, passados os primeiros momentos.
Ninguém foge aos desafios da vida, que são técnicas de avaliação moral para os candidatos à felicidade.
O homem revela sabedoria e prudência, no momento do exame, quando está convidado à demonstração das conquistas realizadas.
Parentes difíceis, amigos ingratos, companheiros inescrupulosos, co-idealistas insensíveis, conhecidos descuidados, não são acontecimentos fortuitos, no teu episódio reencarnacionista.
Cada um se movimenta, no mundo, no campo onde as possibilidades melhores estão colocadas para o seu crescimento. Nem sempre se recebe o que se merece. Antes, são propiciados os recursos para mais amplas e graves conquistas, que darão resultados mais valiosos.
Assim, aprende a controlar as tuas más inclinações e adia o teu momento infeliz.
Lograrás vencer a violência interior que te propele para o mal, se perseverares na luta.
Sempre que surja oportunidade, faze o bem, por mais insignificante que te pareça. Gera o momento de ser útil e aproveita-o.
Não aguardes pelas realizações retumbantes, nem te detenhas esperando as horas de glorificação.
Para quem está honestamente interessado na reforma íntima, cada instante lhe faculta conquistas que investe no futuro, lapidando-se e melhorando-se sem cansaço.
Toda ascensão exige esforço, adaptação e sacrifício.
Toda queda resulta em prejuízo, desencanto e recomeço.
Trabalha-te interiormente, vencendo limite e obstáculo, não considerando os terrenos vencidos, porém, fitando as paisagens ainda a percorrer.
A tua reforma íntima te concederá a paz por que anelas e a felicidade que desejas.
Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Da obra Vigilância