(LAR – FAMÍLIA – CASA)
Por João
Batista Armani
O ideal seria dizermos: “Lá em Casa, na nossa Família temos
um Lar”.
Ao tratarmos desse
importante assunto, pretendemos estabelecer paralelos, que venham a esclarecer
a realidade exata de cada termo, devido a algumas vezes nos confundirmos,
trocando uns pelos outros.
O que é casa? A casa é a habitação, o cimento, madeira, tijolos, móveis.
O que é a família? São Pessoas aparentadas que vivem em geral, na mesma
casa, pai, a mãe, os filhos, genro, nora, avós, etc. A família é um grupo de
Espíritos necessitados, em compromisso inadiável, para reparação e crescimento.
Existem vários tipos de família conforme a afinidade entre os espíritos que as
integram. As afeições reais sobrevivem, permanecendo indissolúveis e eternas.
Independente do tipo de família que temos, vamos observar a importância desta
instituição e como convivermos melhor dentro dela.
O que é lar? O lar é o sentimento de união que envolve a família em prol
da harmonia doméstica. Temos então dedicação, renúncia, silêncio, zelo, e
tantos outros sentimentos que devotamos àqueles que se unem pela eleição
afetiva ou através do impositivo consanguíneo.
Sob esta ótica,
podemos então ter uma casa, uma família, mas não termos um lar, se ali não há
entendimento.
FUNÇÕES DA FAMÍLIA – (Numa visão sociológica).
BIOLÓGICA: Procriação de filhos para manutenção da espécie.
SOCIALIZAÇÃO: Fornecer condições aos novos seres, de relacionarem-se com a
sociedade, preparando-os para a vida.
ECONÔMICA: Transmite noção de valores, comércio, propriedade, herança.
Conhecimentos necessários ao crescimento e sustentação econômica das
sociedades.
CULTURAL: A transmissão de educação e saber na perpetuação cultural e
acompanhamento do progresso, embora não seja exclusividade da família, hoje
temos rádio, tv, jornais, revistas, internet, e as ruas.
PSICOLÓGICA: A família é a base na qual se cria a nossa natureza como pessoa nos
dando segurança, firmeza e confiança.
ESPIRITUAL: Educação do Espírito (através da orientação); Formação de valores
regenerativos (corrigindo tendências equivocadas); Oportunidade evolutiva
(adquirindo novos conhecimentos); Desenvolvimento da afetividade e do amor para
atingir a dimensão da família universal (desarmando animosidades).
Mas as dificuldades de
relacionamento familiar não são de hoje.
O Evangelho de
João (C7: V6) afirma que “nem os próprios irmãos de Jesus acreditavam nele”.
Mateus (C12: V46), nos relata uma passagem do Cristo:
“Enquanto Jesus ainda
falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando
falar-lhe.
- Disse-lhe
alguém: Mestre, eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar
contigo.
- Jesus,
fitando o seu interlocutor com aquele olhar doce e sereno respondeu: Quem é
minha mãe? E quem são meus irmãos?
- E, estendendo
a mão para os seus discípulos disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos, pois
todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão,
irmã e mãe...”
Jesus não estava
renegando os laços familiares, mas aproveitando a oportunidade para nos trazer
mais um de seus ensinamentos, dizendo-nos que existem as famílias espirituais e
as famílias consanguíneas. O Mestre considerou seus apóstolos como sendo seus
irmãos espirituais, diferentes dos seus irmãos carnais, aos quais estava
meramente ligado por laços consanguíneos. Esta passagem busca incentivar a
todos nós, a realizarmos um esforço de progresso no bem comum.
Ao demonstrar que o
homem é na realidade um Espírito em aprendizado na Terra, a Doutrina Espírita
ampliou o conceito de família. Situando-a em bases espirituais o Espiritismo
nos apresenta a família como instrumento de progresso, e oferece ao homem um
programa de desenvolvimento que pretende enfocá-lo em suas dimensões
biológicas, psicológicas, sociais e espirituais. E dentro desse programa são
definidos como objetivos gerais: A integração do ser consigo mesmo; A
integração com o próximo; A integração com Deus.
O desenvolvimento
dessas faculdades pelo contato social tem início no ambiente doméstico aonde o
Espírito dá continuidade ao seu aprendizado intelecto-moral. O Espírito
reencarnado no seio familiar não é considerado inexperiente, é uma
individualidade que traz consigo seus vícios e virtudes de passado. Por isso o
processo de desenvolvimento não é começado, mas continuado a cada nova
experiência de renascimento.
A perspectiva de
integração global do ser consigo mesmo, com o próximo e com Deus, traz para a
família uma responsabilidade maior. Traz o conceito de Família Universal, que
supõe convívio fraterno entre todos os Espíritos, encarnados e desencarnados,
numa cooperação mutua objetivando o progresso conjunto dos seres e das coisas.
Ao Espiritismo coube a
tarefa de ampliar o sentido da sociedade humana e fazê-la entrar nessa nova era
de progresso moral, aonde os erros de passado se resolvam não mais contra o
indivíduo, mas a seu favor e por ele mesmo.
Com a percepção de que
"Há no homem alguma coisa a mais, além das necessidades físicas" vem
o Espiritismo convidar o indivíduo à vivência do amor verdadeiro cujo exercício
começa no ambiente familiar. Exercita-se amizade, carinho, compreensão,
cooperação, liberdade, perdão, respeito, solução de conflitos, diálogo franco e
aberto, como instrumentos de burilamento.
Surge-nos então a
pergunta: Mas de que maneira podemos colocar tais idéias em nossa prática
diária, se na família, convivemos com seres tão diferentes e antagônicos?...
Dando o primeiro passo
para que a família seja mais feliz. Comece com pequenos gestos, sorria,
comprimente os familiares, ore por eles, faça pequenas gentilezas no lar,
elogie (com sinceridade), ofereça ajuda. O ideal seria tratarmos os nossos
familiares como tratamos às visitas.
No final de um dia de
trabalho, o marido chega em casa.
Marido: Hum! Que
cheirinho gostoso tem bolo? E como quem conhece o seu lugar na casa pergunta –
Quem vem nos visitar?
Mulher: A comadre vem
nos visitar, e vai já tirando o olho deste bolo! Você não viu que a casa está
limpa? Vá tirar este calçado imundo, ralha a mulher como é de costume.
Chega a comadre e diz:
Que casa limpinha, vou tirar o calçado para entrar.
Mulher: Não comadre,
não precisa, a casa está suja mesmo, e dá um olhar feroz ao seu marido.
Vão todos para a sala,
onde é servido o delicioso bolo.
Comadre: Me deu uma
cede repentina, podes me trazer um pouco de água?
Mulher: Temos um suco
delicioso, espera que eu já lhe trago.
Marido: Traz para mim
também.
Mulher: Deixa de ser
preguiçoso homem, levanta daí e vá buscar, diz a mulher com aspereza...
E, assim é que
tratamos a maioria de nossos familiares, infelizmente, como se estivéssemos
cansados de sua presença...
Além da eliminação das
“arestas”, fruto de nossa inferioridade, a vida em família é, também, um ponto
de referência que nos ajuda a manter contato com a realidade. As pessoas de
nosso convívio apontam nossas falhas, ajudando-nos a corrigirmos os desvios de conduta.
Procuremos meditar
sobre essas reclamações, será que eles não tem razão?
Jamais construiremos
uma comunidade segura e tranquila sem que o lar se aperfeiçoe. A paz do mundo
começa exatamente sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendermos a viver
em paz entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações.
O melhor remédio
para curar o egoísmo é viver em família. Porque no lar nós vamos compartilhar a
vida com pessoas diferentes de nós. Podemos dar como exemplo, um filho que
gosta de estudar, outro que não suporta um livro. A esposa prefere férias no
litoral, o marido gosta do campo. E todos estão reunidos para um "lar,
doce lar".
A família sadia é
a que lida com várias verdades possíveis e não com um comportamento em bloco. E
necessário haver interesse sobre como cada um se sente nesse convívio e quais
as suas necessidades. Respeitar a individualidade característica de cada ser
faz parte de uma convivência saudável e harmoniosa. O lar é o lugar sagrado que
Deus concedeu às criaturas para que elas pudessem construir os elos do amor que
representam o verdadeiro sentido e significado do Evangelho de Jesus.
A nossa conduta
fora de casa modifica-se quando temos algum problema dentro da família. Quando
começamos o dia com desavenças no lar, ainda que de pequena monta, nosso dia
parece que não engrena. Parece que está amarrado, dificultando o nosso
deslanche. E aquela desarmonia familiar tende a se reproduzir fora do lar, seja
no trânsito, no trabalho ou na escola. Se tivermos harmonia em casa, tudo
conspira a nosso favor, sentimos que somos amados, queridos por nossos
familiares, e aí o nosso comportamento no meio social tende a ser muito melhor,
pois temos uma grande retaguarda de amor em nossa família. Sem a família não há
evolução espiritual, ao menos em nosso atual estágio evolutivo.
Na família é que nós
encontramos as nossas melhores companhias. Estamos reencarnados entre aqueles
espíritos mais indicados ao nosso progresso espiritual. Eles nos trazem as
lições ainda não aprendidas. Diante daquele familiar que representa um
problema, indague-se qual a lição que a vida esta me trazendo. Paciência?
Aceitação? Perdão? Doação?
Portanto vamos amar
nossa família do jeito que ela é (esforçando-nos para que ela melhore). E se
eles não são aquilo que gostaríamos que fossem, lembremo-nos de que nós podemos
também não ser aquilo que eles esperavam.
Além de esclarecer os
aspectos morais do Cristianismo sob nova ótica, o Espiritismo nos mostra a
necessidade do diálogo franco; a prudência de não apontar a poeira no olho do
próximo quando no nosso encontra-se um cisco enorme; a urgência de utilizarmos
o perdão como veículo para manutenção do nosso próprio equilíbrio.
Há pessoas
(espíritas!) que se opõem à evangelização infantil, alegando que é melhor dar
liberdade de escolha em matéria de religião. Quem assim pensa, quão pouco
entende da Doutrina, pois está analisando apenas a parte religiosa de seu
tríplice aspecto. O Espiritismo não é um amontoado de dogmas nos quais
acreditamos cegamente a ser impostos às crianças. O espiritismo é uma filosofia
de vida, é uma forma de enxergar a vida. É uma resposta científica, filosófica
e moral às dúvidas existenciais do ser. E justamente por essa ótica que é
possível fazer os filhos participarem dos problemas da família. É através do
exemplo diário, da convivência equilibrada da família com as dificuldades que
todos nós enfrentamos, que as crianças aprendem com maior eficácia o valor da
fé, da paciência e da perseverança.
Através do estudo do
Espiritismo, compreendemos os problemas existenciais, os valores reais da vida,
os motivos de nossos sofrimentos e como podemos nos libertar. Além disso, a
Doutrina Espírita nos oferece a prece; o passe e a reflexão elevada, que
aliados à nossa transformação íntima nos auxiliam na superação de dificuldades.
No princípio, dissemos
que poderíamos ter uma casa, uma família, mas não termos um lar, se ali não
houvesse entendimento. “Harmonia no lar” é a grande tarefa que se nos
apresenta, pedindo esforço e dedicação de cada um em prol do bem comum. É um
trabalho de todas as horas.
O instrumento ideal para aproximar os familiares é a oração em família. A
prática do Evangelho no Lar, num dia marcado, é o cultivo do Evangelho no
próprio coração das criaturas. Sintonizemos com essa fonte inesgotável para
vencermos (em grupo) os obstáculos do caminho, e para conseguirmos forças e
orientação para a construção de um futuro melhor para nós e para a Humanidade.
O ser que não tem
uma crença e vive apenas para aproveitar os prazeres do mundo, é como um barco
sem motor e sem velas, à mercê dos ventos e das correntes marítimas.
À luz da Doutrina
Espírita O MELHOR É CRESCER EM FAMÍLIA, tendo Jesus por
companheiro.
Muita Paz.
São José, 02/06/2002.