Deolindo Amorim, um dos grandes espíritas
do Brasil, no seu artigo “Problemas Inevitáveis” (1), é de opinião que: “Nem
todos, porém, chegam ao Espiritismo pela Doutrina, através da reflexão e da
análise.” Daí se pode detalhar didaticamente:a) Reflexão e Análise: Segundo a
palavra abalizada de Deolindo Amorim:“Muitos fizeram leituras diversas, antes
de conhecerem obras espíritas, procuram o Espiritismo ainda com dúvidas ou
dificuldades decorrentes da falta de uma orientação segura”. Por conta dessa
falta de elucidação doutrinária, muitos ainda não sabem conscientemente, se é
espírita, pois guardam muitas lembranças de sua antiga crença. E essas
lembranças dificultam a integração na Doutrina.
b) Ideias Religiosas:
Há pessoas que embora queiram integrar-se
na doutrina com sinceridade, ainda sentem certa dificuldade porque não se
desligaram de suas crenças recentes. O problema das idéias trazido de outras
religiões é de raiz profundo e muito freqüente na Casa Espírita. Essas pessoas
trazem um lastro de idéias oriundas da fé em que se educaram; cultivam atos uns
tanto religiosos e, por isso mesmo, não absorvem logo o verdadeiro pensamento
da Doutrina Espírita em sua simplicidade e sua racionalidade.
Deolindo esclarece que essas pessoas ainda
não se desligaram de suas crenças, a não ser superficialmente, logo ainda:
Uns, esperam por “milagres”;
Outros, ainda pensam em termos de “graças
dos anjos”;
Há também, aqueles que ainda tem medo de
“castigo do céu”; e assim por diante.
São cristalizações de ideias, que se forma
no Espírito por força da educação de origem e não se desfazem de uma hora para
outra. Não é apenas um problema de tempo, conquanto o tempo seja um fator
preponderante; mas é um problema de orientação, antes de tudo. Se essas pessoas
não são bem encaminhadas nos seus primeiros contatos com o Espiritismo nos
Centros Espíritas que freqüentam e onde deve aprender Espiritismo, continuam
com as mesmas idéias pela vida afora. E provavelmente, vão continuar pela vida
inteira:
Pedindo favores a Deus;
Rezando por devoção;
E o
que é mais grave, sem saber o que representa o esforço próprio como elemento de
transformação da criatura humana;
E desconhecendo, principalmente, a Lei de
Causa e Efeito, ensinado pelo Cristo.
Daí, ser uma necessidade premente que o
Centro Espírita transmita as informações doutrinárias com a necessária clareza.
Acrescenta Deolindo Amorim:
“Há outra categoria, talvez mais exigente.
É a daqueles que, tendo lido um pouco de tudo, ou de quase tudo, e não tendo
encontrado um ponto de apoio nem um elemento de convicção, querem que a
Doutrina Espírita dê, imediatamente, todas as respostas, já prontas e
acabadas.”
Em um outro artigo – “A Doutrina Espírita
e as mudanças históricas” (2), esclarece Deolindo que há os que aderem ao
Movimento Espírita por:
Entusiasmo,
Simpatia,
Sentimento de gratidão.
Mas, isso logo se vê, que é muito pouco e
daí nem todos por isso estão identificados com o verdadeiro pensamento
espírita.
E afirma então Deolindo:
“Aderir ao movimento espírita não
significa aderir à Doutrina em todos os casos.”
E Deolindo faz como uma classificação,
explicando que:
Acomodação – são os que se acomodam ao
movimento espírita, sem a mínima identificação com a Doutrina.
1. - Acomodação na conceituação do mestre
Deolindo é uma forma habilidosa de conviver ou ajustar-se temporariamente à
qualquer ambiente, embora sem aceitar as ideias do grupo. É o caso dos
elementos que, por necessidade ou por certas conveniências, se acomodam entre
nós, fazem que concordam com as nossas ideias, dão a impressão de que estão
aceitando tudo, mas a verdade é que, no fundo, não aceitam nada do que dizemos.
Estão em nosso meio enquanto precisam resolver determinado problema.
Acomodação, portanto, não é integração.
2. – Adaptação – são as pessoas que se
sentem bem no meio espírita, apreciam nossos modos de conviver, colaboram
conosco, aceitam tarefas, fazem amizades, mas ainda não se sentem seguras
intimamente. Estão apenas adaptadas ao ambiente espírita, mas não se integram
ao espírito da Doutrina.
A bem da verdade, podemos dizer que a
rubrica 1, também pode ser considerada como a que abrange os “espíritas de
contrabando”, de que trata Allan Kardec em “Obras Póstumas”.
Na segunda rubrica, podemos também
chamá-los de “principiantes espíritas”.
E a partir daí, podemos concluir que há
muitas pessoas apenas fazendo número no Movimento Espírita, uma vez que o número
dos que estão integrados à Doutrina Espírita é reduzido.
E assim define Deolindo o processo da:
3. – Integração – que é o processo mais
positivo, que só se dá quando a criatura humana, pelo estudo, pela observação,
pela reflexão demorada, chega à conclusão de que as suas idéias e os seus
valores de outrora já não lhe servem mais, pois agora já tem outra visão da
vida e das coisas.
“Quando se sente, afinal, apoiada nos
princípios espíritas, quando aceita conscientemente esses princípios, quando já
está em condições de dispensar naturalmente a bagagem das crenças antigas, aí
sim, está integrada ao Espiritismo. É pela integração na Doutrina que nos
preparamos, em suma, para compreender as mudanças e assumir posições de
equilíbrio” – encerra Deolindo Amorim.
Referências:
(1) – publicado no jornal “Mundo
Espírita”, de Curitiba (PR), março de 1976.
(2) – publicado na revista “Aurora”, sem
data de publicação, no entanto ele fez um resumo que apresentou em 1979, no
ICEB – Instituto de Cultura Espírita do Brasil.
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