Em seu segundo ano de peregrinações, Jesus começa a falar ao povo por meio de parábolas. Os apóstolos, surpresos com a mudança no modo de Jesus se dirigir à multidão, perguntam:
Por que lhes falas por parábolas? (Mateus 13:10, Marcos 4:10)
Quantas são as parábolas de Jesus de Nazaré?
Se relacionarmos aquelas parábolas descritas pelos
evangelistas, serão 44 as parábolas de Jesus.
Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma
por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam
escrever. (João, 21:25)
Vamos conhecer uma passagem nova, que se dá com o apóstolo
Bartolomeu na casa de Simão Pedro em Cafarnaum. Ali Jesus conta mais uma parábola que não está narrada pelos evangelistas. Trata-se de uma das histórias que Jesus contava aos discípulos mais próximos, e que não contém os enigmas próprios das parábolas.
Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Canã da
Galiléia.
Seu melhor amigo era
Felipe e ambos eram viajantes. Foi o apóstolo Felipe que o apresentou ao
Messias. Até este seu primeiro encontro com Jesus, Bartolomeu era cético e às
vezes irônico com relação às coisas de Deus. Porém, depois de convertido,
tornou-se um dos apóstolos mais ativos e presentes na vida pública de Jesus.
Mas a melhor descrição que temos de Bartolomeu foi feita pelo próprio Mestre:
"Eis um verdadeiro israelita no qual não há fingimento" (João 1,47).
A resposta Celeste, livro Jesus no Lar (Neio Lúcio, psicografia de Francisco
Cândido Xavier)
Solicitando Bartolomeu esclarecimentos quanto às respostas do
Alto às súplicas dos homens, respondeu Jesus para elucidação geral:
— Antigo instrutor dos Mandamentos Divinos ia em missão da
Verdade Celeste, de uma aldeia para outra, profundamente distanciadas entre si,
fazendo-se acompanhar de um cão amigo, quando anoiteceu, sem que lhe fosse
possível prever o número de milhas que o separavam do destino.
Reparando que a solidão em plena Natureza era medonha, orou,
implorando a proteção do Eterno Pai, e seguiu.
Noite fechada e sem luar, percebeu a existência de larga e
confortadora cova, à margem da trilha em que avançava, e acariciando o animal
que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se e dormir. Começou a instalar-se,
pacientemente, mas espessa nuvem de moscas vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o
a retomar o caminho.
O ancião continuou a jornada, quando se lhe deparou volumoso
riacho, num trecho em que a estrada se bifurcava. Ponte rústica oferecia
passagem pela via principal, e, além dela, a terra parecia sedutora, porque,
mesmo envolvida na sombra noturna, semelhava-se a extenso lençol branco.
O santo pregador pretendia ganhar a outra margem, arrastando
o companheiro obediente, quando a ponte se desligou das bases, estalando e
abatendo-se por inteiro.
Sem recursos, agora, para a travessia, o velhinho seguiu pelo
outro rumo, e, encontrando robusta árvore, ramalhosa e acolhedora, pensou em
abrigar-se, convenientemente, porque o firmamento anunciava a tempestade pelos
trovões longínquos. O vegetal respeitável oferecia asilo fascinante e seguro no
próprio tronco aberto. Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar
tão forte que o tronco vigoroso caiu, partido, sem remissão.
Exposto então à chuva, o peregrino movimentou-se para diante.
Depois de aproximadamente duas milhas, encontrou um casebre
rural, mostrando doce luz por dentro, e suspirou aliviado.
Bateu à porta. O homem ríspido que veio atender foi claro na
negativa, alegando que o sítio não recebia visitas à noite e que não lhe era
permitido acolher pessoas estranhas.
Por mais que chorasse e rogasse, o pregador foi constrangido
a seguir além.
Acomodou-se, como pode, debaixo do temporal, nas cercanias da
casinhola campestre; no entanto, a breve espaço, notou que o cão, aterrado
pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar, perdendo-se nas trevas.
O velho, agora sozinho, chorou angustiado, acreditando-se
esquecido por Deus e passou a noite ao relento. Alta madrugada, ouviu gritos e
palavrões indistintos, não podendo identificar de onde vinham nem que os
emitiam.
Intrigado, esperou o alvorecer e, quando o Sol ressurgiu
resplandecente, ausentou-se do esconderijo, vindo a saber, por intermédio de
camponeses aflitos, que uma quadrilha de ladrões pilhara a choupana onde lhe
fora negado o asilo, assassinando os moradores.
Repentina luz espiritual aflorou-lhe na mente.
Compreendeu que a Bondade Divina o livrara dos malfeitores e
que, afastando dele o cão que uivava, lhe garantira a tranquilidade do pouso.
Informando-se de que seguia em trilho oposto à localidade do
destino, empreendeu a marcha de regresso, para retificar a viagem, e, junto à
ponte rompida, foi esclarecido por um
lavrador de que a terra branca, do outro lado, não passava de
pântano traiçoeiro, em que muitos viajores imprevidentes haviam sucumbido.
O velho agradeceu o salvamento que o Pai lhe enviara e,
quando alcançou a árvore tombada, um rapazinho observou-lhe que o tronco,
dantes acolhedor, era conhecido covil de lobos.
Muito grato ao Senhor da vida que tão milagrosamente o
ajudara, procurou a cova onde tentara repouso e nela encontrou um ninho de
perigosas serpentes.
Endereçando infinito reconhecimento ao Céu pelas expressões
de variado socorro que não soubera entender, de pronto, prosseguiu adiante, são
e salvo, para desempenho de sua tarefa.
Nesse ponto da curiosa narrativa, o Mestre fitou Bartolomeu
demoradamente e terminou:
— O Pai ouve sempre as nossas rogativas, mas é preciso
discernimento para compreender as respostas d’Ele e aproveitá-las.