No dia 3 de outubro de
1804, às dezenove horas, na casa do magistrado Jean-Baptiste-Antoine Rivail
localizada na cidade de Lyon à Rua Sala, 76, na França, sua esposa Jeanne
Louise Duhamel dava à luz uma criança do sexo masculino. Era
Denizard-Hippolyte-Léon Rivail.
FORMAÇÃO
ESCOLAR E O INSTITUTO DE YVERDUN
Desde pequeno o menino Rivail revelou-se bastante inteligente e sagaz
observador, sempre compenetrado de seus deveres e responsabilidades, denotando
franca inclinação para as ciências e para os assuntos filosóficos. Seus
primeiros estudos foram realizados em Lyon, sua cidade natal. Mais tarde, com a
idade de 10 para 11 anos, Rivail foi enviado para Yverdun, na Suíça, para
completar e enriquecer sua bagagem escolar.
O Instituto de Yverdun, que funcionava no castelo construído em
1135 pelo duque de Zähringen, era frequentado todos os anos por grande números
de estrangeiros, pois era tido como a escola modelo da Europa; era dirigido
pelo professor-filantropo de nacionalidade suíça Johann Heinrich Pestalozzi,
cujo apostolado pedagógico era bastante conhecido, o que lhe conferiu o cognome
de “O
Educador da Humanidade”.
Línguas,
raças, crenças, culturas e hábitos diferentes ali se misturavam, aprendendo as
crianças e os jovens, na vivência escolar, a lição da fraternidade, da
igualdade e da liberdade.
Pestalozzi
pregava que o amor é o eterno fundamento da educação. Em seu Instituto não
havia castigos ou recompensas. O ensino era heurístico: aquele em que o aluno é
conduzido a descobrir por si mesmo, tanto quanto possível por seu esforço
pessoal, as coisas que estão ao alcance de sua inteligência.
A
história, a literatura, todos os ramos dos conhecimentos humanos eram ensinados
em Yverdun, dentre os quais descrevemos alguns: NOÇÕES GERAIS, PORÉM EXATAS, DE
MINERALOGIA, BOTÂNICA, ZOOLOGIA E ANATOMIA COMPARADA; UM CURSO ABREVIADO DE
HISTÓRIA NATURAL; ELEMENTOS DE FISIOLOGIA E PSICOLOGIA; LIÇÕES DE FÍSICA
EXPERIMENTAL E DE QUÍMICA; ESTUDO DE LINGUAS MORTAS OU ANTIGAS (principalmente
o grego e o latim); LÍNGUAS ATUAIS DA ÉPOCA (italiana, inglesa, francesa, alemã
e outras); ESTUDO GERAL DE MATEMÁTICA (dividido em quatro seções: CÁLCULO
TEÓRICO E PRÁTICO, e ARITIMÉTICA SUPERIOR; ÁLGEBRA, OU ARITIMÉTICA LITERAL E
UNIVERSAL; GEOMETRIA; MECÂNICA, COM NOÇÕES DE ASTRONOMIA E GEOGRAFIA
MATEMÁTICA.
Vale
a pena saber que o Instituto de Yverdun possuía em média 150 alunos que se
obrigavam a uma carga horária diária de 10 horas. Aos domingos, numa assembléia
geral, passava-se em revista o trabalho da semana. Pestalozzi dava também
bastante importância ao canto: cantava-se nos intervalos das lições, nos
recreios e nos passeios. A música e o canto adquiriram ali grande impulso entre
1816 e 1817 com o notável compositor suíço Xaver Schnyder von Wartensee.
Pestalozzi
foi um tipo de cristão sempre zeloso, mas eqüidistante do misticismo, dos preconceitos
e das paixões religiosas, apesar de pertencer à Igreja reformada.
Acredita-se que Pestalozzi tivesse alguma noção da vida após a
morte, pois numa carta que escreveu à sua amiga condessa Franziska Romana von
Hallwyl, que procurara consolá-lo da dolorosa perda de um professor, o pedagogo
lhe disse, confiante: “Vossa
fidelidade e vossa amizade a seguirão no outro mundo, nós a reencontraremos e
juntos nos rejubilaremos com alegria.”
O
ALUNO RIVAIL
Assim, depois de algumas informações sobre o ambiente em que Rivail estudou e
se educou, voltamos a falar sobre a sua pessoa ainda como jovem escolar lionês.
Dotado da avidez de saber e de agudo espírito observador, adquiriu ele desde
cedo o hábito da investigação . Contam alguns biógrafos que, quando estudava
Botânica, Denizard se interessava tanto que passava um dia inteiro nas
montanhas próximas a Yverdun, com sacolas às costas, à procura de espécimes
para o seu herbário.
Aos quinze anos, Rivail já conhecia as divergências religiosas observadas no
próprio corpo docente, com alunos católicos romanos e ortodoxos, bem como
protestantes de diferentes seitas, a se desentenderem sobre a interpretação dos
textos escriturísticos, sobre a validade dos dogmas e de outras questões,
embora, no fundo, todos formassem uma família unida pelos laços de amizade que
sadio companheirismo gerara. Tudo isso levou Denizard a conceber, já naquela
idade, a idéia de uma reforma religiosa, com o propósito de conseguir a
unificação das crenças.
DE
YVERDUN A PARIS
Embora não se possa afirmar, presume-se que Rivail tenha permanecido no
Instituto de Yverdun até 1822, talvez desempenhando a função de submestre,
senão, mestre, mesmo, seguindo depois para Paris – à Rua Harpa, 117, um dos
principais eixos da vida universitária parisiense, onde ficava situado o Liceu
Saint-Louis (antigo “Collège d’Harcourt”), estabelecimento escolar respeitado
da Universidade. Lá, Denizard encontraria excelentes oportunidades para
continuar suas atividades educacionais.
RIVAIL
E AMÉLIE BOUDET
Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, Rivail conheceu a Srta.
Amélie Boudet. De estatura baixa, bem proporcionada, de olhos pardos e serenos,
gentil e graciosa, vivaz nos gestos e na palavra, denunciando penetração de
espírito, Amélie nasceu em Thiais, comuna do departamento parisiense de
Val-de-Marne, a 23 de novembro de 1795. Filha única de Julien-Louis Boudet,
proprietário e tabelião, homem portanto bem colocado na vida, e de Julie-Louise
Seigneat de Lacombe, recebeu na pia batismal o nome de Amélie-Gabrielle Boudet.
Após cursar a escola primária, a jovem estabeleceu-se em Paris com a família,
ingressando numa Escola Normal, de onde saiu diplomada professora de 1ª classe.
Alguns documentos revelam que a Senhorita Amélie também fora professora de
Letras e Belas-Artes. Culta e inteligente, chegou a dar à luz três obras, assim
nomeadas: “Contos Primaveris”, 1825; “Noções de Desenho”, 1826; “O Essencial em
Belas-Artes”, 1828.
Em 6 de fevereiro de 1832, Denizard e Amélie firmam o contrato de casamento.
Agora viveriam juntos sobre o mesmo teto até que a morte os separasse.
O
POLIGLOTA
Rivail possuía uma instrução extensa e variada, conhecia também outros idiomas:
o Alemão – sua língua adotiva; o Inglês, Holandês, como também eram robustos
seus conhecimentos do Latim, do Grego, do Gaulês e de algumas línguas latinas
nas quais se exprimia corretamente.
RIVAIL
TERIA SIDO MÉDICO?
Apesar de alguns biógrafos dizerem que Rivail teria sido médico, podemos dizer
que houve um mau entendido; analisemos o que escreveu André Moreil, biógrafo de
Allan Kardec no livro “Vida
e Obra de Allan Kardec”, 1977, Editora EDICEL, página 23:
“…
fez (Rivail) estudos médicos como os primeiros Pestalozzi originários de Lyon e
colheu em seus estudos sobre a eletricidade provas da existência Espírita.”
Porém, em outro capítulo Moreil fala de outra maneira. Vejamos o que se lê na
página 32:
“Consta
que teria estudado medicina e até mesmo sustentado tese, aliás com muito
brilho. Para nós subsiste a dúvida. É certo que o jovem Rivail tinha boa cultura
humanista, e grande desejo de aprender. Interessava-se pelas “humanidades”,
como pelas “ciências”: entre estas, a Física, a Química e a Geologia; a
Biologia também, com certeza. Mas isso não autoriza dizer que estudou Medicina
nem defendeu tese. É possível que, de volta de Yverdun, o jovem lionês tivesse
frequentado a Faculdade de Medicina da sua cidade natal ([1]). Parece, todavia,
que o estudo dessa disciplina não lhe suscitou entusiasmo, pois nunca se
referiu a ela em seus escritos. Apenas uma vez, ao tratar do magnetismo animal,
declarou que o estudo da Medicina o interessara, trinta anos antes, o que
corresponde ao seu período estudantil.”
Assim, faz-se necessário desfazer essa confusão, já que Rivail se referiu ao
Magnetismo e não à Medicina convencional. Em artigo da“Revista
Espírita” de
junho de 1858 intitulado “Os
Banquetes Magnéticos” lê-se
esta frase escrita por Kardec: “Em
nossa opinião a ciência magnética, que professamos há 35 anos…”.
Podemos observar com isso que Kardec não escreveu estudo de medicina e, sim,
ciência magnética, que professara havia 35 anos (e não 30, como quer Moreil).
Poderíamos ainda descrever trechos de outros biógrafos; chegaríamos, porém, à
mesma conclusão: que Kardec jamais foi médico.
RIVAIL
E A MAÇONARIA
É necessário, também, desfazer outro equívoco: que Rivail tivesse sido maçom.
Fazendo uma pesquisa na coleção da Revista
Espírita, 1858-1869, conclui-se que apenas existiram, entre
Denizard e a Maçonaria, afinidades de princípios e ideais, sem jamais haver ele
ingressado em loja alguma. Acreditamos que nada modificaria, tanto para mais
como para menos, a pessoa do biografado se tivesse ele abraçado a Maçonaria. É
necessário, porém, eliminar os exageros para que a verdade triunfe.
O
PROFESSOR RIVAIL E SUAS OBRAS
Em Paris Rivail fundou um Instituto Técnico na rua Sevres, 35, nos mesmos
moldes daquele de Pestalozzi. No ano de 1824, Denizard, ou melhor, Professor
Rivail, publica seu primeiro livro que era dividido em volumes e tinha como
título: Curso Prático e Teórico de Aritmética. Além deste, o Prof. Rivail
publicou, até o ano de 1849, os seguintes livros: Plano para o Melhoramento da
Instrução Pública; Gramática Clássica da Língua
Francesa; Qual
o Sistema de Estudos mais Adequado à Época?; Manual dos Exames para
Certificado de Capacidade; Soluções
Racionais de Perguntas e Problemas de Aritmética e Geometria; Catecismo Gramatical da Língua
Francesa; Programa
dos Cursos Ordinários de Química, Física, Astronomia e Fisiologia; Pontos para os Exames na
Municipalidade e na Sorbone; Instruções
Sobre as Dificuldades Ortográficas.
DENIZARD
E O MAGNETISMO
Rivail tomou contato com o magnetismo no ano de 1823, ou talvez mesmo um pouco
antes; porém, foi em Paris que sua curiosidade foi despertada para esta
ciência, quando o marquês de Puységur – juntamente com d’Eslon, professor e
regente da Faculdade de Medicina de Paris, mais o sábio e naturalista Deleuze
-, deu novos rumos a esta ciência através da modificação dos métodos de Mesmer,
que culminaram na descoberta do sonambulismo provocado. Denizard refere-se
elogiosamente a esses magnetistas franceses, ombreando-lhes outros nomes, como
o do barão Du Potet e o do Sr. Millet.
Rivail estudou criteriosamente essa disciplina, tendo devorado grande número de
obras favoráveis e contrárias escritas por homens de evidência. Diz Anna
Blackwell, no prefácio à sua tradução inglesa de“O Livro dos Espíritos”,
que Rivail tomou parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris,
uma das mais importantes da França. Fez muitos amigos nessa corrente de idéias,
dentre eles o magnetizador Sr. Fortier.
AS
MESAS GIRANTES
Contava Rivail 51 anos de idade em 1854 quando, através do Sr. Fortier, tomou
conhecimento de certos fatos Espíritas. Disse-lhe o interlocutor:
-
“Sabe o senhor da singular propriedade que acabam de descobrir no magnetismo?
Parece que não são unicamente os indivíduos que se magnetizam, mas também as
mesas, que podem girar e andar à vontade.”
-
“É extraordinário, não há dúvida” – respondeu Rivail. “Mas em rigor é um fato
que não parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie
de eletricidade, pode muito bem atuar sobre os corpos inertes e fazê-los
moverem-se.”
Informado, pouco tempo depois, pelo mesmo Sr. Fortier, de que mesas magnetizadas
– chamadas na época de “mesas girantes” -, podiam mover-se e que davam
respostas quando inquiridas, a atitude de Rivail foi de absoluta descrença:
-
“Isto é uma outra questão. Só acreditarei vendo, e quando me provarem que a
mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se
sonâmbula. Até lá, permita-me que considere isso um conto para fazer-nos dormir
em pé.”
Rivail aceitava a possibilidade do movimento por uma força mecânica, mas,
ignorando a causa e a lei do fenômeno, parecia-lhe absurdo atribuir
inteligência a uma coisa puramente material. Estava ele na posição dos
incrédulos desta nossa época (2004), que negam porque apenas presenciam um fato
que não compreendem. Vivia-se numa época em que o fato era ainda inexplicado,
aparentemente contrário às leis da Natureza, o que sua razão lhe impedia
aceitar. Ainda não havia visto nem observado nada. As experiências feitas na
presença de pessoas de caráter e dignas de toda a confiança lhe confirmavam a
possibilidade do efeito puramente material, porém, a idéia de uma mesa falante
não lhe podia ainda fazer sentido.
RIVAIL
E AS MESAS GIRANTES
Foi em 1855, conversando com Sr. Carlotti, outro magnetista, que lhe falou
outra vez, e com grande entusiasmo, desses fenômenos, que Rivail sentiu idéias
novas lhe despertarem na mente. No entanto, o Sr. Carlotti era corso, de
natureza ardente e enérgica. Denizard apreciava nele as qualidades que
distinguem uma grande e bela alma, contudo, desconfiava de sua exaltação. Fora
ele o primeiro a falar-lhe da intervenção dos Espíritos, e contou-lhe tantas
coisas fantásticas que ao invés de convencer Rivail, aumentou-lhe as dúvidas.
Um pouco mais de um ano se passara, era num dia de maio de 1856, estava Rivail
na casa da sonâmbula Sra. Roger com o Sr. Fortier, seu magnetizador. Encontrou
ali o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que lhe falaram sobre os fenômenos,
desta vez sem exaltação. O Sr. Partier era um funcionário público, homem de
meia idade, instruído, sério e calmo. Sua linguagem era pausada e isenta de
entusiasmos. Pois bem: foi o Sr. Partier que causou uma viva impressão em
Rivail que, convidado a assistir a uma das experiências realizadas na casa da
Sra. Plainemaison, à Rua Grange-Batelière, 18, aceitou pressuroso. O encontro
foi marcado para uma terça feira, às 20 horas.
Rivail assiste pela primeira vez, na casa da Sra. Planemaison, e testemunha o
fenômeno das “mesas
girantes” que
saltavam e corriam, em condições tais que era impossível haver dúvidas.
Presenciou alguns ensaios, ainda bastante imperfeitos, da escrita mediúnica em
uma ardósia com o auxílio de uma cesta. Com as idéias ainda indefinidas, Rivail
raciocinava. Ali estava um fato que devia ter uma causa. Entreviu debaixo
daquela aparente futilidade e da espécie de diversão dos que se utilizavam
daqueles fenômenos algo sério, como se fosse a revelação de uma nova lei.
Prometeu a si mesmo que iria investigar os fenômenos a fundo.
AS
MÉDIUNS SRTAS. BAUDIN
Dentro de pouco tempo, surgiu uma oportunidade de Rivail proceder a observações
diretas: numa das reuniões da Sra. Planemaison conheceu a família Baudin, que
morava na Rua Rochechouart. O Sr. Baudin convidou-o para ir assistir às sessões
que se realizavam semanalmente em sua casa. Aceitou, e tornou-se um
freqüentador assíduo das reuniões.
Eram as reuniões bem freqüentadas e, além dos assistentes habituais, era
admitido sem dificuldade quem quer que o pedisse. Os dois médiuns utilizados
eram as Srtas. Baudin, que escreviam em uma ardósia com o auxílio de uma cesta
chamada de “cesta
pião” ou “cesta
de bico”([2]). Esse método exigia o concurso de duas pessoas
para excluir qualquer possibilidade de participação das idéias de cada um dos
médiuns. Foi assim, que Rivail, presenciou comunicações seguidas constando de
respostas dadas a questões propostas, e muitas vezes a perguntas feitas
mentalmente, que faziam perceber, de modo evidente, a intervenção de uma
inteligência estranha.
ZÉFIRO,
O ESPÍRITO
A curiosidade e o entretenimento moviam os assistentes. O Espírito que se
manifestava dava o nome de Zéfiro, o que estava bem de acordo com o seu caráter
e o da reunião. Porém era um Espírito muito bom, e declarava-se protetor da
família Baudin. Muitas vezes sabia fazer rir, outras vezes, dava bons conselhos
e não perdia oportunidade de se utilizar do dito mordaz e espirituoso. Rivail
travou com ele boas relações, dando-lhe constantemente provas de grande
simpatia. Zéfiro não era um Espírito muito adiantado, porém, assistido mais
tarde por Espíritos superiores, ajudou Rivail em suas primeiras obras. Depois
de dizer que ia reencarnar, nunca mais se ouviu falar dele.
PRIMEIROS
ESTUDOS SOBRE ESPIRITISMO
Foi ali, nas reuniões da casa da família Baudin, que Rivail fez os primeiros
estudos sérios sobre o Espiritismo, mais pelas observações que pelas
revelações. Aplicou a essa nova ciência, como sempre fizera, o método da
experimentação. Nunca se utilizou de teorias preconcebidas. Observava,
comparava e deduzia as conseqüências. Era através dos efeitos que procurava se
aproximar das causas. Deduzia pelo encadeamento lógico dos fatos. Só admitia
uma conclusão como válida quando esta conseguia resolver todas as dificuldades
da questão – procedimento este que utilizou também em seus trabalhos anteriores
desde a idade de 24 anos.
Compreendeu
Rivail, desde o início, a importância da pesquisa que estava empreendendo.
Enxergou naqueles fenômenos a chave do problema do passado e do futuro da
Humanidade, tão confuso e controvertido – a solução do problema que havia
buscado durante toda a sua vida. Era preciso agir com prudência e não se deixar
levar por ilusões.
Um
dos primeiros resultados de suas observações foi descobrir que os Espíritos,
nada mais sendo que as almas dos homens, não possuíam nem a suprema sabedoria
nem a suprema ciência. Que seu saber era limitado ao grau de seu adiantamento e
que sua opinião só tinha o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade,
reconhecida desde o início, o livrou do grande perigo de acreditar em sua
infalibilidade, impedindo-o de formular teorias prematuras baseadas no que
dizia um ou no que diziam outros.
As
sessões da casa do Sr. Baudin, que até aquela data não tinham tido uma
finalidade determinada, agora aconteciam de forma organizada e útil; as
frivolidades desapareceram. Rivail tomou a seu cargo procurar resolver
problemas interessantes sob o ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da
natureza do mundo invisível. A cada sessão levava consigo perguntas preparadas
e metodicamente dispostas que eram sempre respondidas com precisão,
profundidade e lógica. Se acontecia de Rivail faltar a uma dessas sessões, as
pessoas ficavam sem saber o que fazer, pois as perguntas fúteis perderam seu
atrativo para a maioria dos freqüentadores.
COMEÇA
A SURGIR O LIVRO DOS ESPÍRITOS
A princípio, Rivail só tinha em mente se instruir. Porém mais tarde, quando viu
que aquelas comunicações formavam um conjunto e tomavam proporções de uma
doutrina, teve a idéia de publicá-las para que todos se instruíssem. Foram
aquelas mesmas questões que, desenvolvidas e completadas, constituíram a base
do “O Livro
dos Espíritos”.
DE
RIVAIL A KARDEC
Em 1856, o professor Rivail recebe dos Espíritos a revelação do trabalho que
tem de desenvolver na Terra. E assim surge o pseudônimo Allan Kardec, com o
intuito separar das obras pedagógicas escritas pelo professor Rivail, as obras
da codificação que eram feitas agora pelo Sr. Allan Kardec. O pseudônimo foi
escolhido porque correspondia a um nome que teria usado em uma encarnação
pregressa revelada por um Espírito que dizia conhecê-lo de remotas existências,
uma das quais passada no mesmo solo da França, onde a sua individualidade tinha
revestido a personalidade de um druida chamado Allan Kardec.
INÍCIO
DA ERA ESPÍRITA
A 18 de abril de 1857 raiou para a humanidade a “Era Espírita”,
ao surgirem nas prateleiras das livrarias os primeiros volumes de “O Livro dos Espíritos”.
Em 1° de janeiro de 1858 circula o primeiro número da “Revue Espirite” (Revista Espírita),
editada em Paris por Allan Kardec; no mesmo ano foi publicado o livro “Instruções Práticas sobre as
Manifestações Espíritas”, e, ainda nesse profícuo 1858,
exatamente a 1° de abril, é fundada a “Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas”.
Em 1859 surge o livro “O
que é o Espiritismo”. A 16 de setembro de 1860 A. Kardec
publica a “Carta
sobre o Espiritismo”, em resposta a um artigo publicado na “Gazette de Lyon”.
No mês de janeiro de 1861, Allan Kardec lança a público “O Livro dos Médiuns” e, ainda nesse ano, no dia 9 de
outubro às 10:30 horas da manhã, em Barcelona, Espanha, são queimados num auto
de fé trezentos volumes e brochuras sobre Espiritismo, entre eles “O Livro dos Espíritos”.
Em fevereiro de 1862, Kardec publica “O
Espiritismo na sua Expressão mais Simples”, e também neste
mesmo ano, “Viagem
Espírita em 1862″.
Em 1864 são editadas as seguintes obras: “Resumo
da Lei dos Fenômenos Espíritas” ou “Primeira
Iniciação” e “Imitação do Evangelho Segundo
o Espiritismo”, chamado posteriormente de “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”.
No dia 1º de agosto de 1865 é publicado o livro “O Céu e o Inferno”,
ou a “Justiça
Divina Segundo o Espiritismo”. No ano de 1866 surge a “Coleção de Preces Espíritas”,
um extrato do livro “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”.
Em 1867 vem a público “Estudo
a cerca da Poesia Medianímica” e, em 1868, Kardec lança “A
Gênese – Os Milagres e as Predições
Segundo o Espiritismo”, e o livro “Caracteres da Revelação
Espírita”.
RETORNO
A PATRIA ESPIRITUAL
Depois deste grandioso trabalho, no dia 31 de março de 1869, com 65 anos de
idade, em Paris, vítima da ruptura de um aneurisma, Allan Kardec retorna à
Pátria Espiritual. Sua missão se completa, no entanto, somente no ano de 1890,
quando é editado o livro “Obras
Póstumas”, reunindo os últimos escritos do grande Codificador.
BIBLIOGRAFIA
Allan
Kardec – Zêus
Wantuil e Francisco Thiesen – Edições FEB;
Vida
e Obra de Allan Kardec –
André Moreil, 1977 – Editora EDICEL
O
Principiante Espírita –
Júlio de Abreu Filho – Editora Pensamento
História
do Espiritismo –
Arthur Conan Doyle – Editora Pensamento
Kardec,
Irmãs Fox e outros –
Jorge Rizzini – Editora Eldorado Espírita de São Paulo
Grandes
Vultos do Espiritismo –
Paulo Alves de Godoy – Edições FEESP
Espiritismo
Básico – Pedro
Franco Barbosa – Edições FEB
Revista
Informação N.35
Obras
Póstumas – Allan
Kardec – LAKE – Livraria Allan Kardec Editora
Pesquisa
enviada por Veronique – Grupo de Apoio Francisco de Assis – GAFA