A exemplo
de André Luiz (Espírito), que nos mostra em seu livro Sexo e Destino, capítulo VI, págs. 51 a 55, como os Espíritos
conseguem levar um indivíduo a beber e, ao mesmo tempo, usufruir das emanações
alcoólicas, José Herculano Pires também associa alcoolismo e obsessão.
No
capítulo de abertura do livro Diálogo dos
Vivos, obra publicada dez anos após o referido livro de André Luiz,
Herculano assevera, depois de transcrever a visão do Espírito de Cornélio Pires
sobre o uso do álcool:
“A
obsessão mundial pelo álcool, no plano humano, corresponde a um quadro
apavorante de vampirismo no plano espiritual. A medicina atual ainda reluta – e
infelizmente nos seus setores mais ligados ao assunto, que são os da
psicoterapia – em aceitar a tese espírita da obsessão. Mas as pesquisas
parapsicológicas já revelaram, nos maiores centros culturais do mundo, a
realidade da obsessão. De Rhine, Wickland, Pratt, nos Estados Unidos, a Soal,
Carrington, Price, na Inglaterra, até a outros parapsicólogos materialistas, a
descoberta do vampirismo se processou em cadeia. Todos os parapsicólogos
verdadeiros, de renome científico e não marcados pela obsessão do sectarismo
religioso, proclamam hoje a realidade das influências mentais entre as criaturas
humanas, e entre estas e as mentes
desencarnadas”.
A
dependência do álcool prossegue além-túmulo e, como o Espírito não pode obtê-lo
no local em que agora reside, no chamado plano extrafísico, ele só consegue
satisfazer a sua compulsão pela bebida associando-se a um encarnado que beba.
Um caso de
enxertia fluídica - Eis como André Luiz relata, em sua obra citada,
o caso Cláudio Nogueira:
Estando
Cláudio sentado na sala de seu apartamento, aconteceu de repente o imprevisto.
Os desencarnados vistos à entrada do apartamento penetraram a sala e, agindo
sem-cerimônia, abordaram o chefe da casa. "Beber,
meu caro, quero beber!", gritou um deles, tateando-lhe um dos ombros.
Cláudio mantinha-se atento à leitura de um jornal e nada ouviu. Contudo, se não
possuía tímpanos físicos para registrar a petição, trazia na cabeça a caixa
acústica da mente sintonizada com o apelante. O Espírito repetiu, pois, a
solicitação, algumas vezes, na atitude do hipnotizador que insufla o próprio
desejo, reafirmando uma ordem. O resultado não demorou. Viu-se o paciente
desviar-se do jornal e deixar-se envolver pelo desejo de beber um trago de
uísque, convicto de que buscava a bebida exclusivamente por si.
Abrigando a sugestão, o
pensamento de Cláudio transmudou-se, rápido. "Beber, beber!..." e a sede de aguardente se lhe
articulou na ideia ganhando forma. A mucosa pituitária se lhe aguçou, como que
mais fortemente impregnada do cheiro acre que vagueava no ar. O Espírito
malicioso coçou-lhe brandamente os gorgomilos, e indefinível secura
constringiu-lhe a laringe. O Espírito sagaz percebeu-lhe, então, a adesão
tácita e colou-se a ele. De começo, a carícia leve; depois da carícia, o abraço
envolvente; e depois do abraço, a associação recíproca. Integraram-se ambos em
exótico sucesso de enxertia fluídica.
Produziu-se ali – refere
André Luiz - algo semelhante ao encaixe perfeito. Cláudio-homem absorvia o
desencarnado, à guisa de sapato que se ajusta ao pé. Fundiram-se os dois, como
se morassem num só corpo. Altura idêntica. Volume igual. Movimentos sincrônicos.
Identificação positiva. Levantaram-se a um tempo e giraram integralmente
incorporados um ao outro, na área estreita, arrebatando o frasco de uísque. Não
se podia dizer a quem atribuir o impulso inicial de semelhante gesto, se a
Cláudio que admitia a instigação, ou se ao obsessor que a propunha. A talagada
rolou através da garganta, que se exprimia por dualidade singular: ambos os
dipsômanos estalaram a língua de prazer, em ação simultânea.
Desmanchou-se então a
parelha e Cláudio se dispunha a sentar, quando o outro Espírito investiu sobre
ele e protestou: "eu também, eu
também quero!", reavivando-se no encarnado a sugestão que esmorecia. Absolutamente
passivo diante da sugestão, Cláudio reconstituiu, mecanicamente, a impressão
de insaciedade. Bastou isso e o vampiro, sorridente, apossou-se dele,
repetindo-se o fenômeno visto anteriormente.
André aproximou-se então de
Cláudio, para avaliar até que ponto ele sofria mentalmente aquele processo de
fusão. Mas ele continuava livre, no íntimo, e não experimentava qualquer
espécie de tortura, a fim de render-se. Hospedava o outro simplesmente,
aceitava-lhe a direção, entregava-se por deliberação própria.
Nenhuma simbiose em que
fosse a vítima. A associação era implícita, a mistura era natural. Efetuava-se
a ocorrência na base da percussão. Apelo e resposta. Eram cordas afinadas no
mesmo tom. Após novo trago, o dono da casa estirou-se no divã e retomou a
leitura, enquanto os Espíritos voltaram ao corredor de acesso, chasqueando,
sarcásticos...
Tratamento do alcoolismo - Embora
o alcoolismo tenha sido definido pela Organização Mundial de Saúde como uma
doença incurável, progressiva e quase sempre fatal, o dependente do álcool pode
ser tratado e obter expressiva vitória nessa luta, que jamais será fácil e
ligeira.
Sintetizando
aqui os passos recomendados pelos especialistas na matéria e as recomendações
específicas do Espiritismo a respeito da obsessão, nove são os pontos do
tratamento daquele que deseja, no âmbito espírita, livrar-se dessa dependência:
1.
Conscientização de que é portador de uma doença e vontade firme de tratar-se.
2. Mudança de
hábitos para assim evitar os ambientes e os amigos que com ele bebiam anteriormente.
3. Abstinência
de qualquer bebida alcoólica, convicto de que não bebendo o primeiro gole não
haverá o segundo nem os demais.
4. Buscar apoio
indefinidamente num grupo de natureza idêntica à dos Alcoólicos Anônimos, que
proporcionam, segundo o dr. George Vaillant, o melhor tratamento que se
conhece.
5. Cultivar a
oração e a vigilância contínua, como elementos de apoio à decisão de manter a
abstinência.
6. Utilizar os
recursos oferecidos pela fluidoterapia, a exemplo dos passes magnéticos, da
água fluidificada e das radiações.
7. Leitura de
páginas espíritas, mensagens ou livros de conteúdo elevado, que possibilitem a
assimilação de idéias superiores e a renovação dos pensamentos.
8. A ação no
bem, adotando a laborterapia como recurso precioso à saúde da alma.
9. Realizar pelo menos uma vez na semana, na
intimidade do lar, o estudo do Evangelho, prática que é conhecida no
Espiritismo pelo nome de culto cristão no lar. A família que lê o Evangelho e
ora em conjunto beneficia a si e a todos os que a rodeiam.
O recado de Cornélio Pires – No capítulo 1 do livro Diálogo dos Vivos, José Herculano Pires transcreve a resposta em
versos que Cornélio Pires (Espírito) enviou a um amigo que o interpelou,
através de Chico Xavier, sobre o problema do alcoolismo na visão dos Espíritos.
Intitulada Informações do Além, a mensagem
diz o seguinte:
“Recebi o seu
bilhete,
Meu amigo João
da Graça,
Você deseja do
Além
Notícias sobre a
cachaça.
O assunto não é difícil.
Cachaça, meu caro João,
Recorda simples tomada
Que liga na obsessão.
Você sabe. Aí na
Terra,
Nas mais
diversas estradas,
Todos temos
inimigos
Das existências
passadas.
Muitos deles se aproximam
E usando a idéia sem voz
Propõem cousas malucas
Escarnecendo de nós.
Nas tentações
manejamos
Nossa fé por luz
acesa,
Mas se tomamos
cachaça
Lá se vai nossa
firmeza.
Olhe o caso de Antoninha.
Não queria desertar,
Encafuou-se na pinga,
Hoje é mulher sem lar.
Titino, homem
honesto,
Servidor de
tempo curto,
Passou a viver
no copo,
Agora vive de furto.
Rapaz de brio e saúde
Era Juca de João Dório,
Enveredou na garrafa,
Passou para o sanatório.
Era amigo dos
mais sérios
Silorico da Água
Rasa,
Começou de pinga
em pinga,
Acabou largando
a casa.
Companheiro certo e bom
Era Neco de Tião,
Afundou-se na garrafa,
Aleijou o próprio irmão.
Cachaça será
remédio,
É o que tanta
gente ensina...
Mas álcool, para
ajudar,
É cousa de
Medicina.
Eis no Além o que se vê.
Seja a pinga como for,
Enfeitada ou caipira,
É laço de obsessor.
Nas velhas perturbações,
Das que vejo e
que já vi,
Fuja sempre da
cachaça,
Que cachaça é
isso aí.”