A desencarnação não é igual para todos
1. A certeza da vida futura não exclui as apreensões do homem quanto à
desencarnação. Há muitos que temem não propriamente a vida futura, mas o
momento da morte. Será ele doloroso? Tentando elucidar essas questões, Kardec
inquiriu os Espíritos e deles recebeu a informação de que o corpo quase sempre
sofre mais durante a vida do que no momento da morte e que os sofrimentos que
algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o
Espírito.
2. É preciso, no entanto, que consideremos que a desencarnação não é
igual para todos e que, ao contrário, há uma variação muito grande, tão grande
quanto as diferentes formas de viver adotadas pelos encarnados. Vendo-se a
calma de alguns moribundos e as convulsões terríveis de outros, pode-se
previamente julgar que as sensações experimentadas nem sempre são as
mesmas.
3. A separação da alma é feita de forma gradual, pois o Espírito se
desprende pouco a pouco dos laços que o prendem, de forma que as condições de
encarnado ou desencarnado, no momento do desenlace, se confundem e se tocam,
sem que haja uma linha divisória entre as duas.
4. Alguns fatores podem influir para que o desprendimento ocorra com
maior ou menor facilidade, fatores que estão relacionados com o estado moral do
homem quando encarnado. A afinidade entre o corpo e o perispírito é
proporcional ao apego do indivíduo à matéria, que atinge o seu ponto máximo no
homem cujas preocupações dizem respeito exclusivamente à vida de gozos
materiais. Ao contrário disso, nas almas puras – que antecipadamente se
identificam com a vida espiritual – o apego é quase nulo.
O desprendimento da alma jamais é brusco, mas gradual
5. Em se tratando de morte natural resultante da extinção das forças
vitais por velhice ou enfermidade, o desprendimento opera-se suavemente. Para o
homem cuja alma se desmaterializou e cujos pensamentos se
destacam das coisas terrenas, o desprendimento quase se completa antes da morte
real, ou seja, tendo o corpo ainda vida orgânica, o Espírito já começa a
penetrar a vida espiritual, apenas ligado à matéria por elo tão frágil que se
rompe com a última pancada do coração.
6. No homem materializado e sensual, que mais viveu do corpo que do
Espírito, e para quem a vida espiritual nada significa, tudo contribui para
estreitar os laços materiais e, quando a morte se aproxima, o desprendimento,
embora também se opere gradualmente, demanda contínuos esforços. As convulsões
da agonia são indícios da luta do Espírito, que às vezes procura romper os elos
resistentes, e outras vezes se agarra ao corpo, do qual uma força irresistível
o arrebata com violência, molécula por molécula.
7. O desconhecimento da vida espiritual faz com que o Espírito se apegue
à vida material, estreitando os seus horizontes e resistindo com todas as
forças, conseguindo prolongar a vida e, conseqüentemente, a sua agonia, por
dias, semanas ou meses. Em tais casos, a morte não implica o fim da agonia,
pois a perturbação continua e ele, sentindo que vive, sem saber definir seu
estado, sente e se ressente da doença que pôs fim aos seus dias, permanecendo
com essa impressão indefinidamente, uma vez que continua ligado à matéria por
meio de pontos de contato do perispírito com o corpo.
8. Dá-se o contrário com o homem que se espiritualizou durante a vida.
Depois da morte, nem uma só reação o afeta. Seu despertar na vida espiritual é
como quem desperta de um sono tranqüilo, lépido, para iniciar uma nova fase de
sua vida.
No suicídio, a separação da alma é bastante dolorosa
9. Nas mortes violentas, como nos acidentes, nenhuma desagregação teve
início antes da separação do perispírito. Nesse caso, o desprendimento só
começa depois da morte e seu término não ocorre rapidamente. O Espírito fica
aturdido, não compreende o seu estado, permanecendo na ilusão de que vive
materialmente por período mais ou menos longo, conforme o seu nível de
espiritualização.
10. Nos casos de suicídio, a separação da alma é extremamente dolorosa.
Constituindo o suicídio um atentado contra a vida, o sofrimento quase sempre
permanece por período igual ao tempo em que o Espírito deveria estar encarnado.
Além disso, as dores da lesão física provocada repercutem no Espírito. A
decomposição do corpo e sua destruição pelos vermes são sentidas em detalhes
pelo Espírito desencarnado, conquanto tal fato não constitua regra geral. Há
ademais o remorso, gerando sofrimento moral para aquele que decidiu desertar da
vida.
11. O espírita sério, adverte-nos Kardec, não se limita a crer, porque
compreende, e compreende, porque raciocina. A vida futura é para ele uma
realidade que se desenrola incessantemente aos seus olhos, uma realidade que
ele toca e vê a cada passo e de tal modo que a dúvida não pode ter guarida em
sua alma. A existência corporal, tão limitada, amesquinha-se diante da vida
espiritual. Que lhe importam os incidentes da jornada, se compreende a causa e
a utilidade das vicissitudes humanas quando suportadas com resignação?
12. A alma se eleva então em suas relações com o mundo visível; os laços
fluídicos que o ligam à matéria enfraquecem-se, operando por antecipação um
desprendimento parcial que facilita a passagem para a outra vida. A perturbação
conseqüente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para
logo se reconhece, nada estranhando, mas antes compreendendo a sua nova
situação.
FONTE:
http://www.oconsolador.com.br/ano2/75/esde.html
Por THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
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