Por Marta Antunes Moura
A forma como representamos o mundo
que nos rodeia interfere diretamente nos processos educativos, visto que, à
medida que o conhecimento é ampliado, modifica-se a visão da realidade na qual
nos encontramos inseridos, como se observa nos registros que se seguem. (1)
1. Pré-história – o surgimento da escrita foi fator
impactante e facilitador do ensino e da aprendizagem. As primeiras
representações escritas aconteceram no neolítico, na Idade de Bronze, sob a
forma de sinais e ideogramas que evoluíram para registros linguísticos simples,
denominados cuneiformes. (2)
2. Idade Antiga ou Antiguidade (4000
a 3500 a.C.) – os processos educativos mais relevantes ocorrem na
Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma. Eram elitizados e focados na
solução dos problemas cotidianos. (2)
3. Idade Média (século V a
parte do século XV) – a educação, de
responsabilidade exclusiva da Igreja Católica, era de acesso difícil e
restrito, priorizando-se o prestígio, a influência política e a riqueza dos
alunos, integrantes da realeza, nobreza e do clero. As escolas
funcionavam anexas às catedrais e aos monastérios ou em alguns mosteiros,
onde se lecionavam as sete artes liberais: gramática,
retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música. (3) A
metodologia do ensino resumia-se às extensas preleções de temas previamente
preparados pelos religiosos, submetendo alunos e professores a uma rígida
e irracional disciplina, sobretudo quanto a horários, assiduidade, atitudes,
comportamentos e avaliações da aprendizagem.
Neste horizonte de
intolerância, contudo, surgem duas importantes contribuições: a de Santo
Agostinho (350-430 d.C.) que seguia o ideal platônico, defendia a ideia
de que a aprendizagem só pode ser satisfeita por Deus e recomendava “(…)
aos educadores jovialidade, alegria, paz no coração e ás vezes também alguma
brincadeira” (4); e a de Thomas de Aquino (1224-1274 d.C.) que, rompendo o
paradigma vigente, introduz debates em sala de aula, a fim de “(…) evitar
o tédio e despertar a capacidade de admirar e perguntar.” (5) A sua
metodologia, então denominada Escolástica ouEscolasticismo (do
latim scholasticus = que pertence à escola, instruído),
favoreceu a criação de diversas universidades na Europa, como as de Paris, Oxford, Cambridge, Salerno, Bolonha, Nápoles, Roma, Pádua,
Praga e Lisboa. (3)
4. Renascença (período situado
entre século XV e o XVI) – a educação renascentista priorizava o estudo da
filosofia grega, a matemática e as ciências da natureza. A exatidão do cálculo
chegou até mesmo a influenciar o projeto estético dos artistas desse período. A
razão foi eleita como a forma de adquirir conhecimento do mundo e das
coisas. (5)
5. Idade Moderna (1453 a 1789) – o processo educativo passa por profundas
modificações, sendo o ensino caracterizado pelo didatismo, adoção de
diferentes matérias (disciplinas) no currículo escolar e concedendo-se
maior liberdade aos alunos. São ideias advindas dos princípios da reforma
protestante, da contrarreforma católica com a fundação da Companhia de Jesus,
dirigida pela ordem jesuíta; do pensamento difundido pelo matemático René
Descartes (1596-1650) — que cultuava a razão como o único instrumento da
aprendizagem —, e do iluminista Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que
pregava um ensino mais leve e livre, de contato com a Natureza, distante
das amarras das reforma protestante, da contrarreforma católica e dos exageros
do racionalismo. (6)
6. Idade Contemporânea (após 1789) – predomina-se o
culto à razão, resultante do amálgama de ideologias, princípios, métodos e
recursos do tecnicismo e do didatismo, a maioria conflitante entre si. Mas,
face o redesenhamento da sociedade, determinado pelas sucessivas e cumulativas
descobertas científicas e inovações tecnológicas, associadas às revoluções
liberais e às duas guerras mundiais profundos abalos ocorrem na educação
que, em decorrência, é submetida a extenso e profundo desafio. (7)
Importa considerar
que a Doutrina Espírita, transmitida em 1857 com a publicação de O Livro dos Espíritos, conceitua educação como “(…) a
arte de formar caracteres (…)” (8) que é, justamente, o sentido que os
estudiosos atualmente estão propondo para a construção do modelo
educativo do milênio. Todavia, um dos maiores desafios da educação nos dias
atuais é saber enxergar a pessoa como um ser integral. E mais: que
o afeto, a ética e a moral devem, sim, governar o comportamento humano, em
qualquer local e sob quaisquer circunstâncias. Hoje, sabe-se que não se pode
conceber um processo de ensino e aprendizagem que priorize apenas o
intelectualismo e a razão. Este foi o erro de Descartes que, ao anunciar sua
célebre frase “penso, logo existo”, estabeleceu. dicotomia entre o pensar e o
existir, pois é quase impossível pensar e existir exclusivamente de forma
racional, ignorando os sentimentos e as emoções. Rousseau, neste aspecto,
foi além ao afirmar que a principal característica que não pode faltar em
um professor é a sua capacidade de educar o aluno para transformá-lo em um
homem de bem, tal como orienta a Doutrina Espírita.
Outro desafio, não menos importante,
está relacionado ao ambiente da aprendizagem: sufocante e improdutivo no
passado, ainda é reproduzido, no presente, em certas sociedades fechadas, sobretudo
nas religiosas. Neste sentido, não podemos ignorar que o estudo desenvolvido no
meio espírita ainda apresenta características que lembram as práticas da
escolásticas (não há um livre debate, pois este é preparado de acordo com as
regras do didatismo, e nem todos os assuntos podem ser discutido); o estudo
doutrinário ou apresenta perfil conteudista e racionalista, desenvolvido em
cursos de longa duração. Trata-se de uma triste constatação porque toda e
qualquer orientação espírita deveria, necessariamente, pesar as
consequências morais, referendadas pelo Evangelho de Jesus, e serem
transmitidas de forma simples, ainda que apoiadas nos meios tecnológicas e nas
dinâmicas pedagogias, utilizadas meramente como meios didáticos. Vemos, assim,
que o. ambiente de aprendizagem do Centro Espírita precisa ser repensado,
estabelecendo-se um espaço de verdadeira interação sociocultural, acolhedor por
excelência, mesmo que as condições ambientais sejam modestas. Ambiente em que a
pessoa se sinta bem-vinda, respeitada, aceita, estimada, livre para participar
dos encontros de estudos, sem constrangimentos e imposições, que desconsiderem
as diferenças individuais e a diversidade cultural e econômica. Daí ser
importante manter-se atento a estes esclarecimento de Allan Kardec: .
Todos falam da importância da
educação, mas esta palavra é, para a maioria, um significado
excessivamente impreciso. (…) A educação é a arte de formar homens, isto é, a
arte de neles fazer surgir os germes das virtudes e reprimir os do vício; de
desenvolver sua inteligência e dar-lhes instrução adequada às necessidades. (…)
Em uma outra palavra, o objetivo da educação consiste no desenvolvimento
simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais. (9)
Referências
Bibliográficas
1 MORIN, Edgar. A religação dos saberes. O desafio do século XXI. Trad.
de Flávia Nascimento. 5.ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, cap. 1,
pag.29-32.
2 Educação na Antiguidade.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3920034
3 Educação na
Idade Média. www.brasilescola.com
4 GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática,
2008, cp.4, pág. 56.
5 ______, p. 58..
6 A História da
Educação/Período Moderno
http://www.pedagogia.com.br/historia/moderno.php Nascimento, Claudia T. A história da educação ao longo dos tempos… Uma viagem histórica. Parte V – a Educação
contemporânea.
8 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. de Evandro Noleto
Bezerra. 4 ed. Brasília: FEB, 2013, q. 685-a, pág.306.
9 RIVAIL, Hippolyte
léon Denizard. Plano proposto para a melhoria da educação
pública. Trad de Albertina Escudeiro Seco. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Edições Léon Denis, 2005, p. 11-12.