Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
Baseado em Publicação da FEB
Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das idéias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de nevoa que lhe obscurece os pensamentos.
Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em que menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.
O processo de desprendimento espiritual é lento ou demorado, conforme a constituição do temperamento, a formação do caráter moral e as aquisições espirituais de cada ser. Não ocorrem duas desencarnações que sejam iguais. Cada um desperta ou se demora na perturbação, consoante as características próprias de sua personalidade. Nesse particular, o comportamento religioso exerce uma fundamental importância. Aqueles que se fixaram às idéias niilistas, materialistas, hibernam-se, não raro, como a fugir da realidade num bloqueio inconsciente de longo porte que os atormenta em forma de pesadelos infelizes, de que se não conseguem facilmente libertar. Tendo agasalhado a ideia do nada, deperecem e se exaurem em agonia superlativa, sem que se permitam alívio nas regiões frias e temerosas a que são arrastados por natural processo de sintonia mental, quando não acompanham, estarrecidos, a decomposição do corpo a que se agarram, tentando restabelecer-lhe os movimentos, em luta inglória avassaladora. Os que cultivaram as religiões simplistas, que prometem os céus a golpes de facilidade e oportunismo, são surpreendidos por uma realidade bem diversa com que não contavam.
Os que agasalham idéias esdrúxulas, fazem-se vítimas de horrores e alucinações lamentáveis que os desnorteiam por tempo indeterminado. Os suicidas, graças aos atenuantes ou agravantes que os selecionam automaticamente, descobrem em inditoso despertar a não existência da morte.
Os que se converteram em destruidores da vida alheia, experimentam as aflições que infligiram e expungem, em intérmina angústia, o acordar da consciência e a sobrecarga dos crimes perpetrados. A perturbação espiritual ocorre, portanto, “na transição da vida corporal para a espiritual; nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações”. A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte, e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos.
O último alento quase nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsciência. No entanto, na morte violenta as sensações não são precisamente as mesmas.
Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O Espírito, colhido de improviso, fica como que aturdido e sente, e pensa, e acredita-se vivo, prolongando-se esta ilusão até que compreenda o seu estado. Finalmente, concluímos dizendo que “O estado do Espírito por ocasião da morte pode ser assim resumido: tanto maior é o sofrimento, quanto mais lento for o desprendimento do perispírito; a presteza deste desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado, de consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário