Meditações
acerca da inteligência
Autor: Hermínio C. Miranda
Autor: Hermínio C. Miranda
http://www.oespiritismo.com.br/textos/ver.php?id1=148
Ninguém diria com maior autoridade que o próprio Kardec que o Espiritismo é doutrina essencialmente evolutiva, o que significa dizer que não nos foi trazida inteira acabada, cristalizada e dogmática. O Espiritismo é um corpo vivo de pensamento e, como tal, suscetível de desdobramentos cujos limites não temos condições de alcançar ou prever. É preciso observar bem, no entanto, onde e quando, como e porque devemos e podemos trabalhar as suas inúmeras sínteses a fim de que, movidos pela intenção de desenvolver certos aspectos doutrinários, não cometamos o desacerto de deformá-los irreparavelmente. E isto é fácil de ilustrar, quando nos lembramos de que toda a complexa teologia moderna cita cristã não é mais do que o “desdobramento” dos simples e luminosos conceitos evangélicos formulados pelo Cristo. Como foi possível partir de afirmativas como “... não busco minha vontade e sim a vontade daquele que me enviou”, para chegar-se, por exemplo, à formulação da divindade de Jesus? Por onde entrou, nessa teologia, o dogma do pecado original? Como nasceu a doutrina das penas eternas? Ou o conceito de uma só existência para o ser humano, com um julgamento final e irrecorrível?
Ninguém diria com maior autoridade que o próprio Kardec que o Espiritismo é doutrina essencialmente evolutiva, o que significa dizer que não nos foi trazida inteira acabada, cristalizada e dogmática. O Espiritismo é um corpo vivo de pensamento e, como tal, suscetível de desdobramentos cujos limites não temos condições de alcançar ou prever. É preciso observar bem, no entanto, onde e quando, como e porque devemos e podemos trabalhar as suas inúmeras sínteses a fim de que, movidos pela intenção de desenvolver certos aspectos doutrinários, não cometamos o desacerto de deformá-los irreparavelmente. E isto é fácil de ilustrar, quando nos lembramos de que toda a complexa teologia moderna cita cristã não é mais do que o “desdobramento” dos simples e luminosos conceitos evangélicos formulados pelo Cristo. Como foi possível partir de afirmativas como “... não busco minha vontade e sim a vontade daquele que me enviou”, para chegar-se, por exemplo, à formulação da divindade de Jesus? Por onde entrou, nessa teologia, o dogma do pecado original? Como nasceu a doutrina das penas eternas? Ou o conceito de uma só existência para o ser humano, com um julgamento final e irrecorrível?
Enfim,
os exemplos poderiam ser multiplicados, se a finalidade aqui não fosse apenas a
de ilustrar uma ideia, ou seja, a diretiva de que os comentaristas da Doutrina
Espírita precisam manter um elevado padrão de lucidez e de humildade
intelectual para não contaminarem o Espiritismo com os seus preconceitos e não
o retransmitirem sob uma ótica que, em lugar de ampliar determinados aspectos,
o deformem grotescamente, a ponto de torná-lo irreconhecível. A Doutrina não é
um cadáver sobre o qual poderemos, à vontade, realizar nossas experimentações
mutiladoras, nem um aparelho, ao qual possamos substituir peças e adaptar a
outras finalidades. Repitamos: é um organismo vivo e deve ser tratado como tal,
ou seja, com todos os cuidados necessários e com o máximo respeito que toda manifestação
de vida deve merecer-nos.
Não
obstante, o Espiritismo não rejeita aqueles que se aproximam dele com o
respeito a que acima nos referimos, dispostos a desdobrar aspectos que ainda lá
estão em síntese, à espera dos trabalhadores qualificados que, por certo, andam
por aí e ainda virão. É o caso da mediunidade, por exemplo, para citar apenas
um entre muitos aspectos. Os estudos sobre essa faculdade começaram ainda com o
próprio Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, continuaram nas notáveis obras de
Gabriel Delanne. Aksakof, Lombroso e tantos outros e, ainda em nossos dias,
prosseguem em novos desdobramentos, com André Luiz. E estamos longe de veros
limites do território e explorar, pois os seus contornos escapam à nossa
percepção. Mas, que em todos esses cometimentos não percamos de vista os
parâmetros de aferição e os marcos implantados nas obras básicas, a fim de que
não percamos pelos domínios da fantasia ou do personalismo doutrinário, que
fracionaria o Espiritismo em ramos e seitas que muito teríamos a no futuro. Em
suma: na frase felicíssima do confrade Jorge Andréa: é preciso dinamizar
Kardec, não dinamitar Kardec.
Ainda
há pouco, aqui mesmo em “Obreiros do Bem” (artigo sob o título “Centenário de
uma Frase”, junho de 1976) propunhamos a formulação de modelos espíritas para a
sociedade futura, em vez de nos demorarmos indefinidamente pelos caminhos, a
tentar convencer da realidade do Espírito aqueles que não desejam ainda ser
convencidos. Dizíamos, então, que não vemos muito sentido nesse esforço
gigantesco de acumular provas que, de certa forma, não servem nem a nós, os que
não mais precisamos delas, nem àqueles que não as desejam aceitar, porque se
obstinam em defender suas fortalezas de opereta de ceticismo estéril.
Tentemos,
porém, ser mais específicos quando mencionamos os tais modelos ou matrizes,
pois é necessário, desde logo, relembrar um princípio inarredável em qualquer
dessas inúmeras possibilidades de ampliação e aplicação dos conceitos
doutrinários: O Espiritismo não é um movimento arregimentador de massas, nem se
presta a servir de base para militâncias políticas de qualquer colaboração ou
tendência. Sua filosofia de ação é aquela que se dirige ao homem, ou melhor, ao
Espírito imortal reencarnado, pois entende que, como soma dos indivíduos, a
sociedade não poderá, jamais ser melhor do que os seus componentes. Os cemitérios
da História estão cheios de doutrinas que alimentaram a ilusão de arrumar a
sociedade de baixo para cima, ou seja, cuidando do ser coletivo, quando o
trabalho precisa ser feito no indivíduo, por meio do despertamento para a sua
realidade espiritual interior. Somos Espíritos e não unidades de produção,
votos, consumidores, massa de manobra, enfim.
Sejamos
ainda mais específicos, na descida cautelosa aos pormenores, ao particular.
O
capítulo quarto do “O Livro dos Espíritos”, ao referir-se à questão do
princípio vital, cuida dos aspectos subsidiários dos conceitos de inteligência
e instinto. (Questões 71 a 75, páginas 78 e 79 da 34ª edição da FEB). O que
Kardec considerou prudente perguntar e o que os Espíritos decidiram suficiente
ensinar na época está, pois resumido em apenas 5 questões. É óbvio que isto não
esgota a temática suscitada, nem era esse o objetivo dos elaboradores da
Doutrina. Quantas sugestões preciosas, no entanto, partem daqueles discretos
comentários! A que amplos desdobramentos não se prestam as sínteses propostas
pelos Espíritos e as observações adicionais de Kardec!
Desejava
o Codificador saber se inteligência e matéria são independentes, “porquanto um
corpo pode viver sem a inteligência. Mas, a inteligência só por meio dos órgãos
materiais pode manifestar-se. Necessário é que o Espírito se una à matéria
animalizada para intelectualizá-la”. (1) A fonte da inteligência é a
inteligência universal, sendo, no entanto, “faculdade própria de cada ser, e
constitui sua individualidade moral”. Advertiram, porém, neste ponto, que havia
limites por aí, além dos quais o homem não poderia seguir, por enquanto.
Será
que o instinto dependeria da inteligência? - desejou saber Kardec.
-
“Precisamente, não, - respondem os Espíritos - por isso que o instinto é uma
espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio. Por ele é que todos
os seres provêem às suas necessidades”.
Instinto
e inteligência acham-se tão intimamente ligados que muitas vezes se confundem.
A força diretora do instinto é tão preciosa que os Espíritos acrescentaram que
também ele “pode conduzir ao bem”. E mais ainda:
-
“Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão.
Nunca se transvia”. (Os destaques são meus, evidentemente).
Ante
o inusitado do ensinamento, Kardec desejou saber por que nem sempre a razão é
guia infalível.
-
“Seria infalível - respondem seus amigos invisíveis - se não fosse falseada
pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a
razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio.
Aí
está, pois, em apenas duas páginas, um mundo fascinante de sugestões para
futura especulação.
Que
interessante definição, por exemplo, essa de que o instinto é uma inteligência
sem raciocínio, que funciona como instrumento através do qual os seres vivos
atendem às suas necessidades. Podemos lembrar aqui as recentes e curiosas
experiências do Prof. Bakster com as plantas, que confirmam com notável
precisão os ensinamentos transmitidos pelos Espíritos há mais de um século. O
instinto, que ele foi descobrir nas plantas, por meio de seus sensíveis
aparelhos, é exatamente isso: uma inteligência sem raciocínio a serviço da
integridade da planta. Que necessidade seria mais essencial do que a da
conservação? As plantas reagem nitidamente tanto às vibrações de afeto com as
de ódio; àquele que cuida delas ou que procura destruí-las, informam da sua
alegria ao serem confortadas, com um pouco de água ou da sua apreensão ao
sentirem-se em terreno ressecado. Dentro do seu limitado círculo de recursos
instintivos, a planta age realmente com inteligência, ainda que desprovida de
razão, pois que, se a tivesse, disporia também de livre-arbítrio, como também
ensinaram os Espíritos. A razão começa junto com a consciência de si mesmo, o que
nem plantas nem animais possuem.
A
reflexão nos levará a inferir que o instinto é a pré-história da inteligência
racional e, por isso, tem que ser mais seguro na sua direção do que a fase
subseqüente. Ainda sem dispor de razão, o ser vivo não pode errar, porque não
teria como corrigir o erro. Por isso os Espíritos disseram que o instinto nunca
se transvia. Nunca é uma expressão de tremenda força. A possibilidade de
transviamento começa, pois, quando surge a razão que nos proporciona o livre
arbítrio, ou seja, a capacidade de decidir entre duas ou mais alternativas. Por
outro lado, novo aspecto digno de profundas meditações é o de que a razão seria
orientadora infalível dos nossos atos, se não fosse falseada pela má educação,
pelo orgulho e pelo egoísmo”.
E,
assim, com esta razão falseada que as inteligências transviadas montam
complexas estruturas filosóficas, aparentemente muito racionais, mas totalmente
falsas, porque a razão que lhes serviu de modelo estava contaminada pela má
educação, pelo orgulho e pelo egoísmo.
Lembremos
aqui a razão absoluta, purificada, é que se referia Kardec ao recomendar que a
fé teria que, também ela, submeter-se, e isto é tão verdadeiro que vemos
variedades espúrias de fé. Paixão e razão que se misturam. A razão é fria porque
neutra, embora não insensível.
Mas,
nestas reflexões, por mais atraentes que sejam, nos afastamos um pouco do nosso
tema. Ou não?
Retomemos
o conceito de inteligência e experimentemos projetá-lo um pouco mais longe.
Após os ensinamentos trazidos pelos Espíritos a Kardec, como se desenvolveu no
meio científico a especulação em torno da inteligência? Que é inteligência em
termos de ciência?
Uma
pesquisa histórica revela que a palavra em ai foi utilizada pela primeira vez
por Cícero, ao transpor a expressão dia-noesis, criada por Aristóteles, sendo
útil aqui lembrar que noesis é entendimento, compreendido.
A
incipiente psicologia escolástica medieval, derivada, em grande parte, dos
conceitos aristotélicos, acabou cristalizando a “definição”, se assim podemos
chamá-la, de que inteligência era a qualidade abstrata comum e característica
dos processos intelectuais. Isso, como se vê, corresponde a declarar que a água
é molhada, mas, enfim, tal era a escolástica...
Com
a decadência dessa corrente filosófica, o termo entrou em desuso e só foi
retomado por Herbert Spencer, já no século 19, que, no entanto, deu-lhe uma
interpretação meramente biológica, ou seja, materialista e que praticamente
perdura até hoje. Sem poder explicá-la em termos precisos, e desapoiado de
qualquer suporte espiritualista, Spencer achava que a inteligência explicava-se
pela presença dos pais na formação do ser, o que vale dizer que ele apenas
transferia o problema para a geração anterior e o desta para a imediatamente
anterior e assim por diante, sem chegar às raízes da questão.
Seja
como for , as especulações de Spencer permitiram conceituar psicologicamente a
inteligência como capacidade de resolver, com êxito, situações novas,
entendimento aceitável que, ao que eu saiba, prevalece até hoje.
Inegavelmente,
porém, as pesquisas em torno da inteligência ainda não se libertaram das
amarras e das vendas materialistas, e ao campo da ciência ortodoxa não chegou
ainda a iluminação que se irradia a partir das informações colhidas no mundo
espiritual, nem das eu decorrem de todo o acervo de fatos documentados pelos
investigadores da fenomenologia espírita.
Ainda
se pensa que inteligência é uma questão basicamente genética colorida por
influências mesológicas, ou seja, hereditária e desenvolvida sob forte pressão
do meio ambiente. Para sermos justos, é preciso reconhecer que alguma
influência realmente exercem a hereditariedade e o meio, mas não tanto quanto
julgam os cientistas acadêmicos, e não propriamente sobre a inteligência em si,
mas sobre suas manifestações.
Vamos
tentar compreender melhor isso. Um casal de criaturas marcadas pela debilidade
mental pode gerar uma criança também prejudicada mentalmente mas isso não
significa que este novo ser seja espiritualmente um débil mental. Na verdade,
pode ser um gênio que apenas não conseguiu criar no corpo físico, em gestação
sob condições tão adversas, um instrumento adequado de manifestação de seu
potencial. Não são raros, porém, os casos de filhos altamente inteligentes
nascidos de pais deficientes. A recíproca também é válida: pais inteligentes
gerando filhos retardados.
Por
outro lado, o ambiente em que se desenvolve a criança exerce sobre sua
inteligência uma influência que não pode ser desprezada, mas não deve ser
exagerada, porque sob as condições mais hostis podem desenvolver-se
inteligências brilhantes.
Isso
tudo tem demonstrado à saciedade que a inteligência não é um fator basicamente
genético ou mesológico, mas uma faculdade do Espírito preexistente, que traz
para a sua nova existência os recursos intelectuais que já tenha conseguido
desenvolver no passado, dentro, porém, das condicionantes criadas pelo seu
comportamento moral, ou seja, pelo bom ou mau uso que deu à sua inteligência.
Voltemos,
por um instante, ao ensinamento dos Espíritos.
-
... “a inteligência - dizem eles, em resposta à pergunta 72 - é uma faculdade
própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral”.
Não
é exatamente isso o que provam as observações? Ou seja, que cada ser se
encontra no estágio que lhe é próprio de desenvolvimento intelectual e que o
uso da inteligência tem nítidas e inelutáveis implicações morais? Confere,
portanto, mais este aspecto.
Enquanto
isso, no entanto, os cientistas desligados das correntes espiritualistas
continuam a pesquisar as razões das dessemelhanças intelectuais entre gêmeos,
partindo do pressuposto de que, gerados simultaneamente, teriam de ser pelo
menos semelhantes em inteligência, senão idênticos, o que está longe de ser
verdadeira pois cada um deles é um Espírito diferente, em diferente estágio
evolutivo.
Vejamos,
porém, um pouco mais além, já que falamos em estágio evolutivo.
Ao
que indica a observação apoiada no conhecimento espiritual, a inteligência é a
resultante do conhecimento acumulado ao longo dos milênios e das inúmeras
encarnações. (2) Não somos inteligentes por causa de uma combinação genética
particularmente feliz, ou porque nos desenvolvemos em ambiente adequado, mas
porque, no passado, já nos habituamos a manipulação e apropriação do
conhecimento, através do estudo e do aprendizado. As noções que adquirimos, as
experiências porque passamos, as coisas que descobrimos incorporam-se à nossa
memória, cujos registros básicos se encontram no perispírito, e, embora
armazenadas na zona crespuscular do chamado inconsciente, estão ali, à nossa
disposição. Quanto mais conhecimento tenhamos adquirido no passado, mais fácil
se torna “resolver com êxito situações novas”, porque temos um banco de dados
mais vasto, contra o qual confrontamos analogicamente os fatos novos, as novas
proposições, os novos aprendizados. É sempre mais fácil construir em cima do
alicerce já consolidado.
Seria
interessante, por exemplo, desdobrar ainda mais este aspecto para examinar o
papel que desempenha nisso tudo a memória, ou, ainda, a intuição, mas seria ir
muito longe num artiguete como este, que pretende apenas levantar questões para
estudo, sem a tola pretensão de resolvê-las.
Há,
também, por aqui, analogias notáveis com a cibernética, pois os computadores
modernos não passam de cérebros artificiais, ainda muito primitivos e limitados
em comparação com o cérebro humano. São meros bancos de dados que decidem entre
duas opções, segundo um programa preestabelecido e de acordo com o acervo de
informações que têm armazenado em suas memórias. É claro que não desejamos
dizer que o computador seja inteligente, nem que tenha instinto, mas é certo
que se utiliza de um dos dispositivos da inteligência humana, isto é, a
memória.
Fiquemos
aqui mesmo, para concluir.
Creio
ter conseguido evidenciar, com estas reflexões, o que se costuma ter em mente
ao se dizer que inúmeros conceitos formulados pelos Espíritos dentro da
Codificação estão à espera de desdobramento e aplicação, sem, no entanto,
mutilar a Doutrina. Esse desdobramento, no correr do tempo, há de deslocar,
rearrumar e tornar obsoletos muitos dos mais caros conceitos da ciência
moderna, não apenas na Psicologia, mas em todos os ramos do conhecimento,
naquilo que concerne ao ser humano, como unidade social. É justo admitir, no
entanto, que muitas das noções catalogadas pela ciência, serão aproveitadas e
iluminadas sob um novo ângulo, com uma nova luz e acabarão por oferecer uma
visão nítida do homem e do mundo que o cerca, objetivo multimilenar da
especulação humana.
Que
estamos esperando? Onde estão os pensadores espíritas? Os psicólogos,
sociólogos, biólogos, médicos, enfim, os artífices espiritualizados e evangelizados
da sociedade futura? Os temas aí estão, e a Ciência aguarda aqueles que irão
conciliar conhecimento e moral, razão e fé, o homem e Deus.
(2)
Relembremos o sentido da expressão noesis escolhida por Aristóteles e que quer
dizer conhecimento.
(Obreiros
do Bem - Agosto de 1976)
Um comentário:
Also in english!
Very good!
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